terça-feira, 27 de maio de 2014

boletim médico

quarto banho do dia
falta uma hora para nova dose
o corpo arrepiando
pelos e peitos
rechaza a água fria
não há outra opção
molha o corpo
tapa os mamilos com as mãos
em vão
nota a unha do pé esquerdo perdendo a cor
molha os cabelos
todo o seu corpo treme
o roxo da toalha colore o rosto
os olhos fundos
os lábios inhame
desliza até o chão e nele fica
mentalmente
fisicamente se arrasta
até a cama
fecha os olhos
sonha
e começa a suar outra vez


                                                                                                                                          março de 2013










sábado, 24 de maio de 2014

bang bang little boy

bang bang 
toquei a campainha 
bang bang 
minha boca tocou o copo
 bang bang 
suas mãos tocaram meus pés 

 num instante nem podia supor 
nem ousara por vez em sonho sonhar 
mas meus lábios tocaram os seus 
na infância da praia não vivida 
sua prancha de isopor desmoronara o castelo meu
 minha camiseta branca molhada 
suor e água salgada 
meu biquíni com areia 
eu tinha apenas seis anos 
sua prancha de isopor com seu corpo por cima 
meu choro 
a rebeldia em você 
a rebeldia dos seus onze anos



sexta-feira, 9 de maio de 2014

você pode ouvir os cavalos?

publicado em 26 de setembro de 2013 no site tremaliteratura.com


que vento
que venta
e entra
pela janela
passa pelos meus cabelos
presos no alto
a camiseta fina
arrepia o pescoço
poderia ser ficção
mas não
vento fresco
preciso levantar
fechar janela
ouço as árvores balançando
a natureza está viva
ouço
não sei se chuva ou vento
ainda não me levantei
escrevo
florence ao fundo
não compreendo nada
mas me diz algo
"eu te amo brasil"
em inglês
dog days are over
plateia vibra
procuro
sim, essa música
minha irmã um dia me mostrou o clipe
que sensação
eles cantam
canta o vento
cato minha alma
recolhida
elevo-a para dançar
chove
parece verão
esmalte descasca
conheci um lindo jardim hoje nessa rua
seu venceslau
a casa que fora de sua mãe
ele transformou num imenso secreto infinito
discreto
cria piranhas que brilham
seus olhos também, d'água
ao falar de sua esposa
que já morreu
em homenagem o nome num jardim
e uma placa com uma trova
para maria das graças
graça de lau atendida
ele a leu num encontro de trovadores
teresópolis
disfarço minhas lágrimas
não tenho direito
e seu jardim de peixes tão cotidianamente escondido de nossos olhos
afoitos
"caminhe mais devagar, aline"
sem pressa podemos comungar com o belo
voltarei para conhecer o terraço de preciosidades
vento leva meus sinais
fecho os olhos
imagino-o arrepiando-te também
para onde irei?
sozinha
te espero
em prece
chove fino pela janela
"mato-grosso é um peixe amoroso, estão sempre juntos"
"essas plantas fecham as mãos assim, de noite"
chove.




nota do editor: Aline Miranda tem estado tão feliz que 
o Dalai anda se inspirando nela para seu próximo livro

quarta-feira, 7 de maio de 2014

azul

a casa
o jardim
céu de estrelas sobre mim

sou azul
tão azul
vaga-lume
louva-deus
louva meus eus

(é uma musiquinha mas não tive coragem
 de compartilhar cantando)

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