Tanto verde
tanta gente
tanto interior
naquela tela tão grande
a sala escura e fresca.
Meu peito encheu-se em grito
sem poder gritar
meus cabelos pediram rio
sem poder mergulhar
meu corpo pediu: livre
sem poder dançar.
Fechei os olhos molhados
e vi a flor.
Soprei baixinho ao vento seu nome
cheio de cor.
Uma pétala me veio em brisa
toda embrionadinha em dor.
Senti-la murcha assim
fraquinha
deu um nó em meu pescoço
que disfarcei com palavras tolas
aos olhos grandes de fora.
De longe reguei seu vaso
alimentei-a com humo
e o colar da impotência
pesando-me a garganta.
Oh, flor, no outono confusa
com as folhas que caem.
Logo chega a primavera
e sabes que lama é também alma.
No jardim ou na floresta
há de desabrochar de novo
em lindas cores
leves tons
suave
sem ferrugem azul.
Descansa em sono profundo
sentido-se toda plainar.
Consolo de rede
em colos
mãos em suave trançar.
Borboleta é pétala qu voa,
escreveu Clarice, pois.
Mariposita amiga,
guarda-te em teu casulo
para o breve metamorfasear.
sábado, 30 de março de 2013
sábado, 23 de março de 2013
você está exclamando, marília
eu havia dito:
não há você nessas fotos.
você olhou a parede:
no hay.
hoje olhei,
menti,
você está lá
pulsando em meu peito
como exclamação.
não há você nessas fotos.
você olhou a parede:
no hay.
hoje olhei,
menti,
você está lá
pulsando em meu peito
como exclamação.
segunda-feira, 11 de março de 2013
FIZ SURAS
Nas costas corria um rio
de suor do caminho
em sol
[maior.
O rosto enfermo cora
coraline
corraline
que já é passada a hora.
A porta vai se fechando
vai-se
esvai-se em fissuras
tão mínimas
que você mesma ajudou a fazer.
de suor do caminho
em sol
[maior.
O rosto enfermo cora
coraline
corraline
que já é passada a hora.
A porta vai se fechando
vai-se
esvai-se em fissuras
tão mínimas
que você mesma ajudou a fazer.
quarta-feira, 6 de março de 2013
Hay Day
tenho sete galinhas
cinco vacas
e três ovelhas.
aqui porcos não morrem
emagrecem.
a cada sete horas
consigo três novelos de lã.
juntei dezesseis mil
e consertei meu píer.
agora cargueiros me visitam.
antes de dormir
deixo tudo preparado para o dia seguinte:
manteiga, pipoca apimentada,
torta de framboesa e toucas de lã azuis -
- azul da minha plantação de índigo.
agora não há mais nada.
não há tintura
não há colheita
não há píer
não há fazenda.
acabou a bateria do meu celular.
cinco vacas
e três ovelhas.
aqui porcos não morrem
emagrecem.
a cada sete horas
consigo três novelos de lã.
juntei dezesseis mil
e consertei meu píer.
agora cargueiros me visitam.
antes de dormir
deixo tudo preparado para o dia seguinte:
manteiga, pipoca apimentada,
torta de framboesa e toucas de lã azuis -
- azul da minha plantação de índigo.
agora não há mais nada.
não há tintura
não há colheita
não há píer
não há fazenda.
acabou a bateria do meu celular.
Bárbara Secco
(e pequena contribuição de
Aline Miranda)
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