sábado, 30 de março de 2013

A Busca

Tanto verde
tanta gente
tanto interior
naquela tela tão grande
a sala escura e fresca.

Meu peito encheu-se em grito
sem poder gritar
meus cabelos pediram rio
sem poder mergulhar
meu corpo pediu: livre
sem poder dançar.

Fechei os olhos molhados
e vi a flor.
Soprei baixinho ao vento seu nome
cheio de cor.
Uma pétala me veio em brisa
toda embrionadinha em dor.

Senti-la murcha assim
fraquinha
deu um nó em meu pescoço
que disfarcei com palavras tolas
aos olhos grandes de fora.

De longe reguei seu vaso
alimentei-a com humo
e o colar da impotência
pesando-me a garganta.

Oh, flor, no outono confusa
com as folhas que caem.
Logo chega a primavera
e sabes que lama é também alma.

No jardim ou na floresta
há de desabrochar de novo
em lindas cores
leves tons
suave
sem ferrugem azul.

Descansa em sono profundo
sentido-se toda plainar.
Consolo de rede
em colos
mãos em suave trançar.


Borboleta é pétala qu voa,
escreveu Clarice, pois.
Mariposita amiga,
guarda-te em teu casulo
para o breve metamorfasear.

estratégia

pra não parecer
 exagero
a gente diz que é
 poesia.

sábado, 23 de março de 2013

você está exclamando, marília

eu havia dito:
não há você nessas fotos.
você olhou a parede:
no hay.

hoje olhei,
menti,
você está lá
pulsando em meu peito
como exclamação.

segunda-feira, 11 de março de 2013

FIZ SURAS

Nas costas corria um rio
de suor do caminho
em sol
[maior.

O rosto enfermo cora
coraline
corraline
que já é passada a hora.

A porta vai se fechando
vai-se
esvai-se em fissuras
tão mínimas

que você mesma ajudou a fazer.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Hay Day

tenho sete galinhas
cinco vacas
e três ovelhas.
aqui porcos não morrem
emagrecem.

a cada sete horas
consigo três novelos de lã.
juntei dezesseis mil
e consertei meu píer.
agora cargueiros me visitam.

antes de dormir
deixo tudo preparado para o dia seguinte:
manteiga, pipoca apimentada,
torta de framboesa e toucas de lã azuis -
- azul da minha plantação de índigo.

agora não há mais nada.
não há tintura
não há colheita
não há píer
não há fazenda.

acabou a bateria do meu celular.

Bárbara Secco 
(e pequena contribuição de 
Aline Miranda)

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