"_ De onde você veio?
_ Eu vim do fogo, sereia.
(Ela falava pausadamente e saboreando as palavras. [Dessas pessoas que valorizam vírgulas.] Por vezes fechava os olhos para enfatizar algum instante.)
_ Eu não gosto das pessoas que vem desse país. Na verdade gosto muito, e sempre. Me fascinam. Ao ponto que não cabe mais em mim conhecer alguém desse lugar. Já está tudo muito apertado aqui dentro, sabe? E bagunçado também. É que uma vez que conheço esses estrangeiros nunca mais consigo desconhecer."
"Perguntaram-se os nomes. Os passados, as músicas. Descobriram-se muito parecidas. Nos gostos, nos gestos, nas palavras, no amar."
"(Quem ainda usa isso? Tão antigo. Tão diferente, é bonito até. O antigo.)
Ele estava de costas para a sereia ajeitando algo no barco que ela não soube dizer o que era. (De certo está a ancorar)."
"Ainda que cinza, apesar de castanhos, os olhos da sereia possuiam certo brilho da pequena alegria que lhe causava aquele horário do dia.
A sereia sempre vinha à beira para sentir o entardecer, fazer parte dele."
"E foi que avistou o barco pequeno e seu peito a sufocou de tamanha euforia que passou a habitar ali. Em si."