terça-feira, 30 de outubro de 2012

TRAN(S)ÇA

Quero alguém para trançar-lhe os cabelos
Sentar na grama
Sou de terra
Terra.
Terra para os pés, firmeza
Terra para as mãos, carícia
Você deitada
Cabeça em meu colo
E eu a trançar-lhe com os dedos
Cada fio passando por minha pele
Arrepios
E o tempo perene
Embrenhando-a em mim.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

das memórias I

na adolescência eu queria a melancolia doce das coisas, queria a beleza fria dos sorrisos, dos gestos. eu escrevia, tinha outro blog, uma tia leu e disse à minha mãe "converse com sua filha, ela está triste". no que ela respondeu: "ela não está triste, ela é poeta." minha mãe sempre soube da vida. de mim.

da "Música ao longe"



E um vizinho adentra minha janela enquanto seus dedos brincam no piano, em alguma sala, em alguma casa, imagino sótão, imagino só, imagino solidão melancólica que invade a tarde de poesia e dor. Imagino-me seguindo seus passos, buscando o som pelas ruas, o vento leva as folhas e confunde meus ouvidos cansados. Encontro a casa, portão entreaberto, empurro, ferrugem nos dedos, subo. A escada por fora da casa antiga. Árvores, a rua que sobe, sobe... A música pausa, ele me olha, sorri, a música retoma e a tarde não é então mais gris.
Escuto o piano, o vizinho está vivo. Ele é. Eu para ele não sou, não existo. Sigo no meu quarto, anônimo. Ele segue com seu pranto em melodia. Compartilhamos a beleza desta tarde mas não sei se ele se sabe acompanhado. Por mim.
mulheres adormecidas em meu peito.
basta um sopro,
um olhar,
despertam.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

sábado, 20 de outubro de 2012

A TALL

Busquei na bagunça do quarto um sapato alto.
Não encontrei.
É que eu nunca fui a mais baixa de um encontro.
E nunca imaginei que um corpo tão longo
pudesse me intimidar tanto.
A ponto de eu secar a boca, molhar os olhos
e não saber o que fazer com as mãos.



19-10-12

diga trinta e três: vinte e três.

Vi a foto tua
a boca salivou
tive ganas de te engolir
assim, inteira,
lambendo a pele,
comendo nuca,
cabeça, olhos, nariz
(salto a boca. precavido)
pescoço, tatuagem.
mordo.
pra doer.
gritas, imagino.
peito.
peito.
peito.
perco-me.
tragas-me a cabeça.
retomo o ar.
sigo.
há muito o que devorar.
barriga.
sentes cócegas.
suas mãos me alcançam.
agarro-as com força.
sinto seus dedos entrelaçados
aos meus.
não posso resistir a tão boas mãos.
beijo-lhe os dedos, um, dois, todos,
palmas, farto-me.
te ouço em silêncio
e caio em pranto.
desperto.
eternidade em segundos
e descubro onde estou:
gosto da noite passada
na boca
e teu cheiro,
ainda o sinto,
em minhas mãos.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

trechos de conto em andamento... A hífen MAR

"_ De onde você veio?
 _  Eu vim do fogo, sereia.
(Ela falava pausadamente e saboreando as palavras. [Dessas pessoas que valorizam vírgulas.] Por vezes fechava os olhos para enfatizar algum instante.)
 _ Eu não gosto das pessoas que vem desse país. Na verdade gosto muito, e sempre. Me fascinam. Ao ponto que não cabe mais em mim conhecer alguém desse lugar. Já está tudo muito apertado aqui dentro, sabe? E bagunçado também. É que uma vez que conheço esses estrangeiros nunca mais consigo desconhecer."



"Perguntaram-se os nomes. Os passados, as músicas. Descobriram-se muito parecidas. Nos gostos, nos gestos, nas palavras, no amar."


"(Quem ainda usa isso? Tão antigo. Tão diferente, é bonito até. O antigo.)
 Ele estava de costas para a sereia ajeitando algo no barco que ela não soube dizer o que era. (De certo está a ancorar)."


"Ainda que cinza, apesar de castanhos, os olhos da sereia possuiam certo brilho da pequena alegria que lhe causava aquele horário do dia.
A sereia sempre vinha à beira para sentir o entardecer, fazer parte dele."

"E foi que avistou o barco pequeno e seu peito a sufocou de tamanha euforia que passou a habitar ali. Em si."

da carta - I

Sua carta não chegou
como nunca chegaram
todas as suas
meias-verdades
em mim.


19/10/12

Da objetividade subjetiva

Ancoraste em meu
peito
sofrido
Mergulhaste sem máscara
no mar azul da minha
alma
Comeste dos meus peixes
Bebeste em meu fruto
E fundaste enfim
sua presença no meu leito,
mente e tempo
Colonizaste sua tribo em
minha praia
E partiste
Sem prenúncio, sem despedida
sem lábios tão macios e febris.
Partiste e deixaste meu
porto desgovernado
Mediante a promessa
(quebrada)
da sua volta ao meu cais.



para ler ouvindo La Barca.
http://www.youtube.com/watch?v=9_9eYeslevU

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

olhos febris


eu fecho os olhos
estão mornos
você não está aqui
eles molham
(o sal na pele e eu te lambia)
passo a mão pra disfarçar
mas não há como
transbordou, de leve, 
dois rios finos no rosto.

molhou de verdade
não só na poesia,
menina.

do beijo, da distância.


ai, queima-me a boca,
arde em febre,
tão seca
tão quente
tão pedindo um beijo seu.
pra molhar.
pra corar.
e tornar quente de novo.

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