sábado, 16 de dezembro de 2017

Nosso corpo tem algo que carece



Nosso corpo

Quando partilhando o ambiente

Com outras gentes

Tem algo que carece

Algo de engasgo

Tropeço

Algo que não ecoa

Um desejo abafado

Um grito mudo

Mouco

Um nome rouco

Que não se grita

Não se chama

Não se geme

A não ser que a situação

Se apresente assim

Periclitante

Feito desmaio alheio em mim

A ponto do meu estômago contrair-se todo

Em paixão

A te clamar:

- Letícia!

- Letiiícia!

- Letiiiiiiiiía!


Pois que na terceira você olharia.

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

[alerta textão. pessoal, feminista e sapatão]


Colocar os pensamentos na roda requer coragem. E isso Evelyn Silva tem de sobra. Que sorte a nossa. Lá nos primórdios, na graduação da Letras na UFF, eis que surge essa figura maravilhosa e, com sua amizade e presença, tira uma galera do armário. Parece engraçado, e até é, mas também não, e explico: Eu namorava uma menina, mas não ficava amorosamente com ela na frente das pessoas, algumas amigas menos próximas não sabiam, nem irmã, família zero. Pense... é horrível viver assim. A gente até se acostuma, mas não se sente plenamente feliz, inteira. Enfim. Saltemos. 

A questão da bissexualidade. Há preconceito tanto de mulheres héteras quanto de lésbicas. Estou falando apenas de mulheres aqui porque é disso que o texto na Revista AzMina da Evelyn trata. Relação afetiva entre lésbicas e bis. Eu mesma já torci nariz, por todas as questões que a Evelyn fala lá. Mas né, Brasil (triste brasil), a gente amadurece, e aprende que há diversidade dentro da diversidade, da diversidade... Já estive em relacionamento com mulher bissexual. Foi estranho de início, mas enriquecedor. Porque na diferença a gente cresce e aprende. 

Outro dia, cresci mais, outra vez. Pela naturalidade com que uma mulher bissexual beija outra mulher na rua. Pelo espanto dela com a lesbofobia (e machismo, misoginia, etc, que merda). Pelo espanto meu com a coragem dela. Pelo espanto nosso com o meu não querer demonstrar meu afeto assim, por medo, por memórias ruins minhas e de tantas. É o machismo duplicado. É triste a gente perceber que naturaliza o horror. Enfim. Saltemos. 

Leio esse texto da Evelyn e concordo muito, e reflito, e agradeço. Precisamos falar sobre isso sim. E, às vezes, é preciso (de necessário) se expor para isso. Seja escrevendo textão nas redes, seja escrevendo em revistas, filmes e canções. Seja beijando mulher na rua. A gente tem que naturalizar o amor. E é na existência que a gente resiste.

Para abraçar seu irmão e beijar sua menina, na rua, é que se fez: o seu braço, o seu lábio e a sua voz.  

Gracias, Evita, por tudo que você me (nos) fortalece, sempre.
P.S:E tá rolando reação desfortalecedora por parte de leitoras bis da revista, que triste, o mundo anda muito sinistro para quebrarmos nosso próprio rolê.

cartas de ana cristina cesar

Trechos que copiei das cartas da Ana C, como prometi no insta @outrasbagatelas :
* "Cartas e biografias são mais arrepiantes que a literatura."
* "E estou gostando muito do Adrian. E a distinção "to like" x "to be in love" não faria muito sentido pra mim. Pra mim, o importante é você se lançar e não ter a priori um sentimento x ou y."
* "(...) te mando o meu estado do momento, o estado mais inútil e passageiro e sem saída que há: o mau humor. A depressão pode ser criativa, a angústia também. Mas mau humor é foda."
* "Penso também na fluência que me despertaste. Estou acesa e escrivinhadora."
* "Pequenas, desprezíveis, mas meu deus, juntas!"
(este último trecho discutindo com Ana Candida Perez a tradução de "A chegada da caixa de abelhas", de Sylvia Plath.

pelos pelos

Eu mesma, "tão feminista" para alguns olhos, encaro meus pelos todos os dias - todos -, reflito, estranho, admiro, penso em raspar tudo, evito, às vezes aparo, reflito, e ao final me orgulho, porque enquanto eu tiver vergonha de levantar meus braços em público, não posso depilá-los. E não é só por mim que assim o faço.

sexta-feira, 10 de março de 2017

Manifesto Poético O Corpo é Dela

MULHER,

O SEU CORPO É A SUA REGRA
SUA MORADA
SUA REZA
SE VOCÊ FOR DE REZAR

SUA ESCOLHA
SUA OUSADIA
OU PRAIA DESERTA
SE QUISERES DESCANSAR

SEU CORPO É SONHO
CORAGEM E FORÇA
VISITA OU PORTO
COMO ESCOLHAS NAVEGAR

O SEU CORPO É IMPERMANÊNCIA
SILÊNCIO E GRITO
A VERDADE CRUA
COBERTA OU NUA DE RAZÃO

LEILA, ELKE MARAVILHA
A HORA DA ESTRELA
O SEGUNDO SEXO
A DAMA DO LOTAÇÃO

ELIS, SIMONE E DANDARA
CÁSSIA, FRIDA, MADALENA E XICA
CAROLINA MARIA QUITÉRIA BONITA E DA PENHA
MARIELLE, TALÍRIA, LUCIANA E INDIANARA
SÔNIA,NARA E CONCEIÇÃO

O SEU CORPO É RESISTÊNCIA
É EXISTÊNCIA
DENTRO E FORA
OCUPAÇÃO

O SEU CORPO É A SUA RUA
SUA BANDEIRA
SEU MANIFESTO
SEU BAILE DE ASFALTO E DE SALÃO

PÉS E BRAÇOS
CÉU E CHÃO
TRONCO CABEÇA CORAÇÃO
POIS SE NÃO POSSO DANÇAR
NÃO É MINHA REVOLUÇÃO


Aline Miranda

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