segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

dois passos para frente


dois passos para frente
um para trás
assim era sua valsa
perto e longe, comigo
na vida.

mas quando de wisky
era samba agarrado
apertando nossos corpos
deixando seu perfume e cigarro
na camisa.

ARARA oculta



Já pensastes?
Morar comigo durante um tempo
em outro país-cidade?
É isso o que lhe assombra?
É isso que afasta teu corpo
do meu
cada vez que você queda sóbria?

Já pensastes?
Morar comigo durante um tempo
em outro país-cidade?
É isso o que lhe fascina?
É isso que aproxima teu corpo
do meu 
toda vez que você queda borracha?

domingo, 30 de dezembro de 2012

do pretérito imperfeito


Vibra o celular.
Eduardo me lembrando do casamento
não ocorrido.
Do moço que parou, juntou-se a nós no bar e disse:
- Se eu tivesse uma batina, casava vocês agora.
- Veja como ele te olha, ele te ama!
(disse na nossa frente)
José era seu nome, assim, para simplificar.
Sabia das coisas da geografia e do amor.
Deu-nos conselhos.
Me acompanhou até o longe banheiro:
- Ele que devia estar aqui. E se eu fosse um homem mau?
Eu deveria tê-lo escutado.
José, minha memória já apagara você.
Porque diabos ele veio agora, de longe,
refrescá-la?
Y ahora, José?

sábado, 29 de dezembro de 2012

da hipnose de atena + peixes abissais

tudo junto e misturadin.
já publiquei o poema lido antes: http://outrasbagatelas.blogspot.com.br/2012/11/da-hipnose-de-atena.html
agora tá ilustrado.

finalzin do año, desejos, quereres, ideias.
2013 chega logo mais.
pensar, pensar, criar, correr, amar, no mar.

que veña!
que venga y lindo sea para nosotr@s tod@s!

ps: escribi PENSAR duas vezes. substituir um deles por SENTIR.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

tão 12/12/12

seu sutiã
no meio de nossos corpos
quase nus.

seu sutiã emprestado
oco em mim
tão P.

o vestido dela tão teen
tão verão na região dos lagos.


quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

cê lê tu(do)

o rascunho


um beijo quente
precioso.
tudo vermelho
brasa
do fogo.

mas eram terra-terra
terrinha
cavalo selvagem
e abelha rainha.

dois mágicos chá
peleiros malucos
duas andorinhas
fazendo inverno e verão.
cigarro-formigas
compartilhando aquecer
som e pão.

loirices eternas
na infância amarilla
baby e lelê
estrada infinita
gotas no vidro
vestido e sorriso.

narizes que os levitam
feito nos desenhos.
pernas pra viajar
(que seja voando)
pernas pra alcançar
pernas para amar
mãos de encanto e cantos.

carvão, gelo, relógio e flor
tartaruga casca dura.
coração, elo, elogio e cor
tartaruga macia.

e um eclipse lunar
no longo rio
solar.


foto inspiração: colagem da letícia. disponível no facebook da banda.

quem pegar o pote de seleta de legumes amanhã terá uma surpresa ao encontrar só as ervilhas.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

vinteedoisdedezembro

boizinhos
da estrada vejo
tranquilos
vacas deitadas
na grama
o carro passa
rápido
mas fecho e abro
os olhos
click
e gravo minha imagem
de presépio
para este natal.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

mas com palavras

Procura-se um beijo
aflito
no céu quente
pedido que arde
entre o vapor dos carros
sozinhos
perdido nessa nossa cidade.





sábado, 15 de dezembro de 2012

do devir tuiterano

solto 
e bagunço os cabelos
como se pudesse espantar as ideias
como se pudesse atrair inspiração
como se pudesse ordenar as informações
preciso escrever.

mas me distraio
ela surge
e todo um passado
em topo
ressurge.

dois pra lá
dois pra cá
será que distante
também
ela dançou?

mede-se o tempo pelo crescer dos cabelos.
leio os arpejos de sua quase xará
lembro do livro em sépia
com dedicatória "de coração"
que me ofertou.

imagino encontros e olhares
relembro de planos e dor
durmo ordenando-me que invada
seus olhos e sonhos
para que despertemos
juntas.




terça-feira, 11 de dezembro de 2012

das listras

Sorrateira, rasguei um pedaço
da sua colcha
na impossibilidade de levar
sua coxa comigo.

Fiz do pano
uma bolsa
para me aquecer pelas ruas
no calor do Rio.

domingo, 9 de dezembro de 2012

de la duda

hoje derramei minha primeira lágrima
por você.
desceu quente e demorada
indo morrer em minha
boca.
tardes terminam com a promessa
de novas manhãs.
depois dormi.
e o meu sonho não direi.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

do bregamar

no ar
o vapor
o calor
tanto ardor
nesse ar
um amor?
pelo e sal
pôr do sol
gela mar
ah, rpoador!
(quero voltar,  mergulhar no teu breu
e boiar dentro do teu eu.)

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

ana tereZa

teimava em colocar o cabelo atrás da orelha
a cabeça baixa
lia
ou pensava em linhas turvas
mas o cabelo teimava em sotar-
fio por fio,
cortinando em mistério
o desenho forte do seu rosto branco.

da juventude dela I

a menina deitava na cama, olhando para o teto.
a vida lhe doía.
as tardes quentes e silenciosas molhavam seus olhos azuis.

do tempo


Há doze dias eu fiz falta na sua noite.
Há dois dias você já faz falta na minha vida.

sábado, 1 de dezembro de 2012

da boa dor

Sabe quando você acorda
com o corpo doído (doido)
como se tivesse passado
a tarde toda
na academia?

Pode ser isso.

E podem ser mil outras coisas.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

da hipnose de atena

Eu prometo que não dormiria
por mais que meus olhos pesassem
não os fecharia.
eu ali, inerte, dura
resistindo aos apelos de Morfeu
deitada de frente a ti
a contemplar tua insônia
fazendo-lhe mil cafunés
você pedindo imobilidade
eu respirando o cheiro forte da química
do teu cabelo em minhas mãos
excita
seus olhos se fecham
mas tornam a abrir
num sorriso suave
que em silêncio diz
viu, não consigo dormir
pisco um dos olhos
eu assassina
você minha vítima.
mas sou eu a prisioneira do seu não-dormir.
quero a intimidade
da liberdade do teu corpo em sono.
ao prometer-lhe a novidade e o prazer
de ser a primeira a dormir
escravizei-me ao sonho teu.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Anna

percebi-te menina,
estrela sozinha no céu
escuro da noite.
quis fazer de mim o seu lar.
tão clichê.
veio o horário de verão,
outros goles,
percebi-te mulher.
novo perfume de cravo
no jardim do meu verão.

daquele agosto oco

Eu devia ter batido-lhe na cara.
Mas eu estava tão fragilizada.
Meus ossos estavam já pendidos e com o sopro de tuas palavras você os quebrou.
Caí.
Não passei do solo esverdeado de ardósia porque não sou britadeira.
Meus pés pequenos não suportavam o peso do teu jeito feito piso, frio.
O seu não-abraço, não-consolo, seu não-não-deixar-me-cair.
Seu eu perto/longe, olhos tão vazios.
Eu sozinha, caída e você...
Você foi dormir o sonho dos anjos apaixonados.
Sem vontade, respeito ou compaixão de velar meu corpo morrendo no chão.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

estrelar

Você quer ser lembrada
Quer ser reconhecida
Pra sempre
Inesquecível
Não cabe em nomes
Em cores
Imagens
Nada nunca basta
Teu tempo é outro
Talvez não saiba
Mas você já é
Você já marca
Você já fica
Como aquelas todas
Você ecoa
Você azeda
Você disfarça
Mas já deve saber
Desde criança
O cisne negro
A fera ferida
A cara tão boa
A louca varrida
Tantas Diniz, Lees, Limas e Maçãs
Nada se vai
Não há coincidências
Ou toca
Ou não toca
Tapete vermelho
Insônia e preguiça
Você não passará
Você passarinho
Você terra grande
Você também fogo, água, ar
E ninho.
Três da madrugada
Você estrondo e ruído
Como se um anjo viesse ao chão.
Tão sorriso
Tão olhos
Tão anna bella
Tão pele viva.
Um dia ainda vão fazer um filme sobre você.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

do frisson

mas o olhar...
ah, do olhar ninguém escapa.
é deixar-se ver para tudo voltar.
suspiros, calor no peito,
esquecimento da dor.

ah, pobre donzela,
de mim fugiste
foi tão fácil para você.
mas não contavas com o encontro dos olhos.
olhar-se nos olhos é como despir-se em bocas nuas.

e toda essa nudez será castigada
com a nudez da pele, do toque
por toda uma tarde,
noite adentro,
bem junto,
tão dentro.

ah, donzela,
por que subestimastes o poder de uma mirada?
(mirando e buscando,
teus olhos,
miranda,
da sacada).

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

dos satélites, dos terráqueos e da lua que sorri

sede nos olhos
sono na boca

elvis, madonna
vicky e cristina
em barcelona.

arde o gengibre
fere o tabaco

mordem-se línguas
na meia-luz
do quarto.


quinta-feira, 15 de novembro de 2012

ósculos oníricos

a chuva sobre a cidade
pingava
sonhos
pingava passos

formando peixes em calçadas
cavalos

embaçando óculos

na noite sem carros
sem degraus
o horizonte

roedores, dragões
feras noturnas
deuses soltos

entre línguas
entre pontos
entre dobras
e cantos

despertando os sonhos esquecidos
a cada manhã.



quinta-feira, 8 de novembro de 2012

da aula

A mão corria automaticamente no caderno.
E somente quando faltava apenas uma letra para completar seu sobrenome notei que não havia escrito o nome da professora, ou a data, ou disciplina.
Sem perceber, escrevera você.
Risquei.
Um mantra?
Sentira você na pele a maciez da escrita minha?
Não olhe, ou coro.
De pavor dos olhos seus.
Graúna de trança e fios soltos.
Tudo nela era noite.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

rascunhando madrugadamente

Conhecer gentes queridas me ajuda a lidar com momentos cinzas da vida. Escrevi sobre isso mês passado, que tenho sido gentil e percebido uma energia boa ao redor. Simpatia é quase amor. Na Prainha conversei com a moça do milho, falou coisas ótimas. Conversei com Luiza (nome lindo) de 7 anos e janela nos dentes, e ficamos felizes que fazíamos aniversário no mesmo mês. Mas ela, libriana, tem sorte, nasceu na primavera 26. "Vinte dias depois de você então!". Pequenos encontros, grandes almas. E assim a vida segue mais leve e o sorriso, mais fácil.

(...)

terça-feira, 30 de outubro de 2012

TRAN(S)ÇA

Quero alguém para trançar-lhe os cabelos
Sentar na grama
Sou de terra
Terra.
Terra para os pés, firmeza
Terra para as mãos, carícia
Você deitada
Cabeça em meu colo
E eu a trançar-lhe com os dedos
Cada fio passando por minha pele
Arrepios
E o tempo perene
Embrenhando-a em mim.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

das memórias I

na adolescência eu queria a melancolia doce das coisas, queria a beleza fria dos sorrisos, dos gestos. eu escrevia, tinha outro blog, uma tia leu e disse à minha mãe "converse com sua filha, ela está triste". no que ela respondeu: "ela não está triste, ela é poeta." minha mãe sempre soube da vida. de mim.

da "Música ao longe"



E um vizinho adentra minha janela enquanto seus dedos brincam no piano, em alguma sala, em alguma casa, imagino sótão, imagino só, imagino solidão melancólica que invade a tarde de poesia e dor. Imagino-me seguindo seus passos, buscando o som pelas ruas, o vento leva as folhas e confunde meus ouvidos cansados. Encontro a casa, portão entreaberto, empurro, ferrugem nos dedos, subo. A escada por fora da casa antiga. Árvores, a rua que sobe, sobe... A música pausa, ele me olha, sorri, a música retoma e a tarde não é então mais gris.
Escuto o piano, o vizinho está vivo. Ele é. Eu para ele não sou, não existo. Sigo no meu quarto, anônimo. Ele segue com seu pranto em melodia. Compartilhamos a beleza desta tarde mas não sei se ele se sabe acompanhado. Por mim.
mulheres adormecidas em meu peito.
basta um sopro,
um olhar,
despertam.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

sábado, 20 de outubro de 2012

A TALL

Busquei na bagunça do quarto um sapato alto.
Não encontrei.
É que eu nunca fui a mais baixa de um encontro.
E nunca imaginei que um corpo tão longo
pudesse me intimidar tanto.
A ponto de eu secar a boca, molhar os olhos
e não saber o que fazer com as mãos.



19-10-12

diga trinta e três: vinte e três.

Vi a foto tua
a boca salivou
tive ganas de te engolir
assim, inteira,
lambendo a pele,
comendo nuca,
cabeça, olhos, nariz
(salto a boca. precavido)
pescoço, tatuagem.
mordo.
pra doer.
gritas, imagino.
peito.
peito.
peito.
perco-me.
tragas-me a cabeça.
retomo o ar.
sigo.
há muito o que devorar.
barriga.
sentes cócegas.
suas mãos me alcançam.
agarro-as com força.
sinto seus dedos entrelaçados
aos meus.
não posso resistir a tão boas mãos.
beijo-lhe os dedos, um, dois, todos,
palmas, farto-me.
te ouço em silêncio
e caio em pranto.
desperto.
eternidade em segundos
e descubro onde estou:
gosto da noite passada
na boca
e teu cheiro,
ainda o sinto,
em minhas mãos.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

trechos de conto em andamento... A hífen MAR

"_ De onde você veio?
 _  Eu vim do fogo, sereia.
(Ela falava pausadamente e saboreando as palavras. [Dessas pessoas que valorizam vírgulas.] Por vezes fechava os olhos para enfatizar algum instante.)
 _ Eu não gosto das pessoas que vem desse país. Na verdade gosto muito, e sempre. Me fascinam. Ao ponto que não cabe mais em mim conhecer alguém desse lugar. Já está tudo muito apertado aqui dentro, sabe? E bagunçado também. É que uma vez que conheço esses estrangeiros nunca mais consigo desconhecer."



"Perguntaram-se os nomes. Os passados, as músicas. Descobriram-se muito parecidas. Nos gostos, nos gestos, nas palavras, no amar."


"(Quem ainda usa isso? Tão antigo. Tão diferente, é bonito até. O antigo.)
 Ele estava de costas para a sereia ajeitando algo no barco que ela não soube dizer o que era. (De certo está a ancorar)."


"Ainda que cinza, apesar de castanhos, os olhos da sereia possuiam certo brilho da pequena alegria que lhe causava aquele horário do dia.
A sereia sempre vinha à beira para sentir o entardecer, fazer parte dele."

"E foi que avistou o barco pequeno e seu peito a sufocou de tamanha euforia que passou a habitar ali. Em si."

da carta - I

Sua carta não chegou
como nunca chegaram
todas as suas
meias-verdades
em mim.


19/10/12

Da objetividade subjetiva

Ancoraste em meu
peito
sofrido
Mergulhaste sem máscara
no mar azul da minha
alma
Comeste dos meus peixes
Bebeste em meu fruto
E fundaste enfim
sua presença no meu leito,
mente e tempo
Colonizaste sua tribo em
minha praia
E partiste
Sem prenúncio, sem despedida
sem lábios tão macios e febris.
Partiste e deixaste meu
porto desgovernado
Mediante a promessa
(quebrada)
da sua volta ao meu cais.



para ler ouvindo La Barca.
http://www.youtube.com/watch?v=9_9eYeslevU

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

olhos febris


eu fecho os olhos
estão mornos
você não está aqui
eles molham
(o sal na pele e eu te lambia)
passo a mão pra disfarçar
mas não há como
transbordou, de leve, 
dois rios finos no rosto.

molhou de verdade
não só na poesia,
menina.

do beijo, da distância.


ai, queima-me a boca,
arde em febre,
tão seca
tão quente
tão pedindo um beijo seu.
pra molhar.
pra corar.
e tornar quente de novo.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

dos deuses, da solidão

os deuses dos sonhos
os deuses do espanto
tremem de medo
a cada noite
em suas camas vazias.

os deuses correm contra o tempo
contra as cinzas
o mofo
o acelerador dos veículos
terrenos.

enquanto cada um dos deuses
se agita
sem conseguir dormir
minha rede balança
com o vento
meus cabelos balançam
com a rede
e os sinto acordados tão perto de mim.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

do culpado inocente

porque tudo que começa acaba um dia.
mas vem esse maldito frisson do início
nos fazendo esquecer tudo
e tentar mais uma vez.

ainda tem o seu perfume pela casa.

prefiro sentir cheiro de mofo
agarrado às roupas guardadas
do que seu cheiro que as invade
e num instante
molha esses olhos calados.

sábado, 15 de setembro de 2012

Da boemia

Ando nua pelo apartamento.
Ouço ao longe o soar do sino.
O gato tinha fome.
Talvez fosse melhor assim.
Fez festa ao me ver chegar. O gato.
Enquanto tu me deixavas caminhar sozinha pelas ruas.
Mania besta de confiar nas pessoas.
Os pássaros voam com batidas fortes de asas, posso ouvi-los tão perto.
Tenho gosto de cigarro na boca.
O gato tinha mesmo fome, me esperava.
Enquanto tu, tu fugias em outras bocas e abraços.
Talvez ele me queira bem pelo prato servido.
Se lambe todo.
Mas temos uma relação fervente que se busca.
A bateria acaba, a noite também,
Tantas fumaças em vão, tantos goles, passos.
Ando nua pelo apartamento.
A luz começa a invadir o breu da sala.
Giro toda, gira a mente, o sonho, o desejo de corpo.
Ando pelo apartamento, e nua, penso no que se perdeu.
No que você em mim perdeu.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

ando tão à flor da d'appelle

a flor foi descendo os andares
de névoa fria
de paredes cinzentas
de pessoas tristes no ponto de ônibus
de pessoas cansadas correndo em calçada

a flor rodopiou
foi caindo
de pétalas para baixo
e sem barulho
tocou o tão já sujo chão

o homem não viu de onde ela veio
mas a flor passou por seus olhos-atrás-de-vidro

olhou a flor no chão
e logo dois sapatos
que carregavam a menina
que se abaixou
apanhou a flor
lhe sorriu
e saiu
apressada como tantos ali
mas leve
feito a flor que voou no céu do entardecer daquela cidade.

sábado, 8 de setembro de 2012

vc é um doce.

"vc é um doce.e merece alguem bacana.vc vai achar. sério."

o novo sempre vem, meu bem
sei que assim falando pensas que esse desespero é moda em 73,
um tango argentino.
mas eu queria ser elis
toda desenhada em giz
uma eterna aprendiz
onde o amor será juiz.

vai vendo...

o brega sempre vem, meu bem.
mas nós somos lixo, você e eu.
os dias de preguiça
talvez seja nossa doçura
somos as amantes na rua.

vai sendo...


(queria ver você aos 16 anos, esguia,
com a bolsa a tiracolo
além de não saber como fazer
pra ter um jeito meu de lhe mostar
explicação nenhuma isso requer)

vê se olha com carinho
hoje mesmo
e o tempo que demora para decidir
aqui tá frio, não há vinho, venta tanto
eu posso esperar.
nenhum amor é imortal
não tenha medo.


todos os direitos aos autores.





quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Sol de Setembro

                                                          A Helena Martins

Setembro é primavera mas meu aniversário é ainda inverno.
Mas setembro.
Sol de primavera, abre as janelas do meu peito.
Cada cheiro do novo, a roupa segura no varal querendo-se livre.
Uma brisa mansa, as sementes que brotam.
Há esse ar.
Para todos?
Quero rodar, rodar, ver o mundo em giro, passando, correndo, pinceladas manchadas em sorrisos, vertigem, feito criança leve. (Para de rodar, menina, ou vai ficar tonta!) Mas não vê que é isso o que eu quero? Ver tudo girando, dar outro respiro à vida, confundir teto com chão?
E depois caio lenta, deitada nos paralelepípedos repletos de grama molhada, molha o pescoço, vestido, coxas. Molham-se os olhos que abrem tontos ao céu.
Parece que vai chover.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Flores com 50% de desconto

Estava em casa, sozinha, no meio da tarde fria. As 16 horas lhe traziam estranha melancolia. Todos os dias. Todas as tardes sozinhas. Chovera. Estava escuro ainda. Resolveu abrir as janelas e molhar as plantas tão poucas e frágeis como ela. Queria encher seu jardim de flores. Vermelhas.
Cantarolou se meu jardim der flor, colore minha saudade.
Tão fácil o amor.
Queria ser Alice Braga numa nightwalker, mas não sabia falar inglês. ainda não sabia.
Em breve seria.
Tudo no preto e no branco. Tão riso no pranto.
Calor no peito selvagem, massagem escura, sombra, névoa, fumaça dura.
Cerveja que deixou tudo embolado por dentro do peito, do enjoo, da vontade de dormir.
Há sempre um lado que pesa e outro lado que flutua. Tua pele é crua. É macia, não é minha, não é pura.
Mas naquela noite que eu chamei você...
Foi molhar as plantas, vestido solto, pés frios, cabeça quente.
Respirou, abriu a porta e viu.
Buscou por nome, sobrenome, apelido e telefone.
Não achou mas viu.
Give me your love, love me alive, leve me leve.E se acaso você chegasse no meu chateau e encontrasse aquela mulher que você gostou?
A vizinha coloca uma música romântico-triste para tocar.
Mas viu,
lá estava ela.
Mais uma inspiração para as letras suas. Dela.
A boca ainda sem batom, a aparência arredia, o olhar.
E as flores com 50% de desconto. Mas quem as traria?


(continua...)



terça-feira, 4 de setembro de 2012

do corte na boca

chorando. corta. sonhei com você. tesão. corta. é hora do show. corta. lápis nos olhos. renda. corta. penélope cruz no alto do prédio. um peixe. corta. mãos na cintura. corta. qual seu nome mesmo? corta. você está exclamando. não chora. apaga esse cigarro. corta. vire a folha. você nunca falou comigo antes. corta. o cabelo. corta. diet shake. corta. não me chame de ciumenta neurótica. era feeling meu. corta. hipócrita. corta. vou sem carro então. corta. que desgraça. força. isso não é uma cantada, juro. tipo exportação. corta. uma, duas, três. um almoço qualquer dia desses. corta. eu acreditava tanto em vocês. corta. vinho. corta. ceveja. corta. eparema. corta. ah não, artista plástica. corta. você também escreve, né? corta. esqueci como se faz. corta. tá cheiro de cigarro? corta. vem. corta. mas eu não fumo. corta. queria tanto (en)cantar. a gente gostava tanto de você. corta. lua cheia. corta.  doce no copo. dose no corpo. corta. corta. corta. ação!

por um segundo mais feliz

rimas fáceis, calafrio, fura o dedo, faz um pacto comigo?

embora pela superfície

se mostrava sadia
sádica
foi:
embora
pela
superfície
que chorou
de joelhos
no azul tão puro
desse céu de abril.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012


Se ao olhar não me vês,
se ao tocar não me sentes,
algo em nós morreu:
ou a falta de chuva secou
ou o excesso de pranto venceu.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

roo as unhas e elas são como sinal de afeto.
são prova.
de quê?
não sei.
mas roo-as e exibo-as com orgulho
e esmalte vermelho.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Eu quero te vasculhar toda,
te fuxicar,
te interromper,
morder,
arrebentar.
Quero seguir todos os seus passos,
catálogos,
calçados,
seguir teus passos pela calçada.
E não me julgues,
não reclames.
Tema.
Pois se não o faço
é que não faz falta:
o amor.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

da esperança

Não acreditava em casamentos duradouros-eternos. sua mãe casara tantas vezes, seu pai mantinha mulheres além-casamento. Ele mesmo já tivera duas mulheres. Como acreditar naquele ar apaixonado e inocente que vinha oferecer-lhe a felicidade?

terça-feira, 12 de junho de 2012

Da força

Achado entre xerox(s) da graduação,há quatro anos (29/08/08), creio que de minha autoria:


A força. Ela sempre morou em nós. É preciso despertá-la. A fera está adormecida pelas lágrimas de ninar. Mas num repente inesperado ela se faz valente, rompe as costelas, e a energia que emana a tudo toca. Sabendo guiar essa energia estaremos prontos para tudo.





quarta-feira, 28 de março de 2012

NITERÓI, MON AMOUR. Capítulo 3 - Teresa

Publicado originalmente em TremaLiteratura.com -01/03/12

 “Tiene um calor que me deja fria por dentro”. O cd toca, repete, ela programa repetidas vezes: trilha pra gente. Na janela o vento balançando as cortinas de chita, as lanterninhas japonesas tão simpáticas.

     É quase natal. De presente tem chiclete, incenso e chocolate, num papel prateado laçado com rosa fita. No chão o colchão pequeno, que bom, a fita rosa no pescoço e a vontade infinita de ficar por ali.





texto e vídeo : Aline Miranda

domingo, 25 de março de 2012

da carta sincera

Amor,

Eu sou uma mulher incrível. Não venha me subestimar. Não me agrida para livrar e lavar a alma tua. Aprenda uma coisa, não existe mulher perfeita. Todas terão defeitos. Amor, apreenda meu valor.
Aprendi que não há tesão que sustente. Nem presentes (ou estar presente), nem cartas. Não há. Não adianta o pão na chapa, a cama feita, a meia posta no dia frio. O remédio dado, o cafuné feito, o lugar cedido. Nada nunca será suficiente.
Ainda assim leio seus pensamentos: De que vale tanto amor? Ela não tem dinheiro. Sequer tem tatuagem.

Com leoninos

(para ler durante a introdução de)

Leoninos e suas bagunças,
suas calças espalhadas,
meias na mesa, toalhas em cadeiras.

Leoninos e suas jubas eriçadas
charme desleixo.

Cato lápis pela casa, chaves, pilhas, sacolas, cds
es-pa-lha-dos.

Espalham-se em mim
cama, banho, corpo e alma.
Confusão na ordem minha
caos no espelho
sossego.



quinta-feira, 22 de março de 2012

das farpas

Sim, sei, palavras ferem como espinhos nas costas. Parecem não doer mas basta recostar-se para voltar a sentir. Retirá-los totalmente leva tempo, é preciso paciência e carinho, cuidado diário, como curar-se de uma forte gripe. Leva-se um tempo para digerir.

da luz

O sol dentro dos seus olhos iluminava-me. A cada piscada nascia o breu em mim. Que pavor do escuro breve, que pavor perder-me nos olhos teus!

do escrever

Se não escrevesse às vezes explodiria!
Ou me drogaria.
Ao menos fumaria, ou tomaria um porre.
Mas odeio fumaça, odeio vomitar.
Escrevo.

terça-feira, 20 de março de 2012

Aos que.

Aos que julgam sem saber
Aos que mentem ao inventar,
Aos que incentivam o desgosto,
Aos que tripudiam, escorraçam,
Aos que defendem-se nos outros,
Aos que diminuem para surgir,
Aos que alimentam a baba por vaidade,
Fodam-se todos!
eu tenho espelho.
(E pena dos tolos.)

do movimento

Metia-lhe com força
como se dentro dela
pusesse todas as
dores do mundo.
Como se essas,
na verdade,
saíssem de mim
filtrando
em gozo
o amor.

segunda-feira, 19 de março de 2012

¿Cómo estás, Juanita?


Pajarito de canto dulce, mariposita roja, mariquita sin alas.
¿Cómo está todo por ahí?
También llueve en las almas?
Acá el día amaneció ceniza, xôxo xôxo...
(Xôxo pode ser uma coisa pequena, também designa uma pessoa pequena, criança sub-nutrida e de baixa estatura, fruta que não se desenvolveu totalmente mas ficou madura, como cajús , abacaxi , etc.
ou Beijo estalado; beijoca.)
Decerto o dia não despertou com uma beijoca, menos ainda sou fruta. Dizem que tenho cara de caju. E você, que fruta seria?
Nesses momentos de baixas temperaturas internas, nada como um bom livro, café, um papo com amigo, uma criança, um passarinho. Conversei com uma amiga, que está longe e sempre perto, Pepê, sempre me lembro do edredon cor de chiclete que dividíamos na casa verde do grande coração. Lembro também quando atravessando a poça, visitamos o centro noturno do Rio, boteco indicado pelo jornal, entre ruas estreitas, um achado de portuga (se não falha a memória) simpático e oferecedor de boas pingas! Pois ela, saiu de Sampa, voltou para a casa dos pais por trabalho e agora querem que ela volte à capital. Está se sentindo uma hippie urbana, em busca de um lugar que ama, que se sente ela, e que é mesmo a sua cara. A dela. Disse-lhe que é bom romper com a comodidade sempre que possível para viver em um ambiente que trará mais conhecimento, alegria e..pq não..amor! Mas acabo de me lembrar que não existe amor em SP...
E cá na maravilhosa, existe, Juanita?
Y tu bueno corazón, y tus alumnitos, tus clases, ¿como están?
Tan gran persona eres, mismo tan pequetita...
Juanita, ¡tu estrella brilla!
Amiga león del sol, nos ilumine com seus raios esta manhã!

Besos fríos,
Aline.

domingo, 18 de março de 2012

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Niterói, Mon Amour. capítulo um: Teresa

Niterói, mon amour.

capítulo um
TERESA

Esbarrões, um encontro. "E no meio de tanta gente eu encontrei você." Apartamento, open house, cerveja, giz, noite de lua branca. Ou gris. Poucas falas, de repente a despedida e um beijo roubado. Desejo realizado. Fugaz, molhado, feliz. Tchau sem olhar para trás e um asfalto inteiro mudo, de passarela para seus passos oníricos desfilarem ao lar.

Continua...
                                                                                                                         http://youtu.be/yy2tgLVAMwE 

Zélia Duncan: Entre letras e canções [entrevista por Aline Miranda]

Ela é mutante, transforma-se em outras, muitas e sempre. A música é a base onde cria e se recria. Nascida em Niterói (RJ), morou também em Brasília (DF), onde iniciou a carreira de cantora. Desde então são nove CDs lançados, três DVDs, além de projetos como Mutantes ao vivo e a parceria com a cantora Simone em Amigo é casa. Em setembro de 2010, recebeu o Prêmio da música brasileira (21.ª edição), pelo qual foi vencedora na categoria “Melhor cantora Pop/Rock/Reggae/Hip Hop/Funk”. Zélia Duncan é a doce surpresa que vive no Rio de Janeiro, onde, além de cantar, compõe, pratica corrida e cursa Letras na Universidade Cândido Mendes.


Zélia, de onde veio a vontade de cursar Letras?

Ler é uma herança familiar, algo cultivado em casa. Com o passar do tempo, a vontade de dirigir um pouco isso e aprender outros universos foi ficando forte.

O que essa escolha lhe trouxe de enriquecimento pessoal e/ou profissional? É difícil conciliar a faculdade com a carreira?

Não estou na faculdade para ser uma artista melhor, porque isso não existe — “ninguém aprende samba no colégio”. Mas é algo que me dá imenso prazer mesmo. É tudo confuso às vezes. Esta semana não consegui ir à aula, ontem foi a entrega do prêmio e cheguei tarde. Como demoro a dormir, de manhã precisei descansar.

Você tem muitas parcerias em composições: como na poderosa “Pagu”, com Rita Lee, e na doce “Sinto encanto”, com o Moska. Como ocorre esse processo: existe alguma preferência em fazer letra ou música?

Quase sempre faço as letras; é mais fluido pra mim. Mas minha parte em “Pagu” foi a música; acontece também.

Você tem alguma música sua preferida, que a faça sorrir quando toca no rádio?

Isso varia; tem a ver com fases. Me ouvir no rádio é bem legal, porque sei que estou ouvindo junto com um monte de gente; tem um sabor mais quente.

O show Eu me transformo em outras (em que você interpreta grandes vozes e autores que marcaram sua vida) era um projeto antigo?

Sim. Não tinha nome; só um desejo de imprimir essas influências.

Posteriormente foi gravado o DVD desse trabalho, lindíssimo e muito bem cuidado, na noite silenciosa e nostálgica do centro do Rio. Como chegaram ao Centro Cultural Carioca?

O show nasceu ali. Gosto de rechear o que faço de significados, mesmo que só para mim; mas me alimento disso. Aquele lugar me recebeu, acolheu essa ideia e eu cismei de gravar ali. Oscar Rodrigues Alves foi muito feliz na direção.

Nos extras desse DVD, você conta que gravaria a canção “O habitat da felicidade” mesmo se ela só contivesse o verso “Felicidade não precisa de culpa”. Por quê?

Porque a gente carrega o peso do mundo! Porque eu ralo muito e sei das dificuldades. Por causa disso, muitas vezes não comemoro as coisas como deveria, porque sinto uma culpa de estar feliz de vez em quando. Mas isso é besteira; temos que vibrar com nossas vitórias. A felicidade é mais um caminho do que um fim.

Seu último CD, Pelo sabor do gesto (com produção delicada de John Ulhoa e Beto Villares) é uma riqueza de pequenos detalhes, com um zelo especial em cada parte da produção do disco. Como você participa das escolhas?

O que lamento com o fim desse formato é que perdemos justamente o prazer do roteiro. Certamente não é por acaso; tudo ali é pensado em termos da ordem. Eu estou ali tentando contar uma história. Eu participo de tudo o que diz respeito a repertório, sempre. Meus trabalhos estão sempre impregnados dos meus pensamentos e das minhas escolhas.

Como é para você, depois de tantos trabalhos, descobrir uma nova forma de expressar sua musicalidade, a libras (língua brasileira de sinais)? Como aprendeu?

Foi uma ideia da minha querida diretora desse show, a superatriz Ana Beatriz Nogueira, que vibrou muito na criação do roteiro para o palco, que já é outra coisa. Eu aprendi só para esse momento, na música “Todos os verbos”, mas me enche de entusiasmo fazer aquilo. É muito importante olhar as coisas, valorizar o que não está no nosso mundo mas é o mundo do outro, que acaba nos completando também.

Você já cantou Leminski (“Dor elegante”). Sente que agora esse poema também lhe pertence? Gosta do encontro entre as diversas manifestações artísticas?

Foi meu mestre Itamar Assumpção que me convidou para cantar essa parceria dos dois pela primeira vez, no álbum intitulado Pretobrás. Depois regravei com Naná Vasconcelos no Pré pós tudo. Sempre me comove; tenho muitos motivos para ser grata a essa canção. Eu abri essa porteira da diversificação, dos parceiros diferentes, produtores e músicos novos para mim, e acho que vou ser sempre assim. Isso me revigora, me dá frescor, me faz querer continuar.

Quais seus autores preferidos?

Clarice Lispector e Machado de Assis são meus clássicos. Amo poesia. Pessoa e Drummond, junto com Hilda Hilst, sempre me acompanham. Mas adoro Kafka, Rilke, Philip Roth, recentemente, e mais um tanto.

No curso de Letras, o que você tem gostado mais de estudar e ler?

Gosto de Teoria Literária. Adoraria ter tempo pra mergulhar nisso. Fico fascinada com certos textos; nunca pensei que me adaptaria aos mais acadêmicos, mas me pego delirando com muitos deles.

Existe algum poema ou personagem da literatura que a tenha marcado de forma especial?

Sim; Dom Quixote e os personagens das letras de Luiz Tatit.

Se não fosse cantora, o que seria: poeta, atleta?
Cantora frustrada!


Esse texto foi publicado no plástico bolha nº29 



terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

da velocidade

O motorista da van
pensa que pilota uma moto
zig-zag, zig-zag
vai costurando o trânsito
por entre os carros
e estômagos voando.

espanto e sobreaviso

rec rec
acordo a noite.
ratos afiando as unhas
no assoalho aberto.

tic tac
o sol desperta.
ratos tombando aos montes
do chumbinho aberto.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Já neiro, Já era.

Tomate cru, já dizia o poeta,
Uns na fossa, outros na merda.
Quem procura acha, já dizia a artista plástica.
Coração e dor em casa,
Mulher livre leve e solta
Na lapa.

Escrevendo carta, dando chance, remoendo, passando por cima.
Cerveja na rua, loira puta, coração livre, cama vazia.
Dois corpos em dasafino,
Cabeças longe, borburinho.
Ilusão de amor de vida
Bate tanto mas não fica.

Peito aberto, noite escura.
A outra cabeça, na rua.
Dois olhos em lua, lago em lágrimas.
Outros dois olhando além.
Desamor a quem quer bem.

De que vale a noite em claro, o remoer, o perdoar,
Se a outra já nos bares, buscando os olhos, a flertar,
Buscando aquela, logo aquela, a mais promíscua ingratidão,
De que vale ceder ao amor
A quem lhe negou a mão?

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Já neiro

O branco no portarretrato,
O soluço no almoço,
As unhas do pé que não param de crescer.

A porta bateu e o vento levou: as lembranças, as camisas, o ventilador.
As flores nos vasos secaram, os peixes morreram.
A cama pra sempre desfeita.

Má água

Má água
Aguada mágoa
Deságua
Afoga
Encharca
E seca de noite ao sol.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Do tempo

Por que o homem faz a guerra?
Porque a mulher pretere o amor?
Embriaguez do instante hoje,
Imprevisão do tempo dor.

Garrafa com gosto de grama,
Suor na cama,
No espelho um drama.
Todo dia a mesma lama:
Janela e lençol pra quem se ama.

Peito com faca
De frango, de gente.
Almoço servido
Em panos quentes.

A nuvem desaba,
Chuva na aba,
Mágoa na taba.
Pergunta que no se gustaba:
Amor e dor também acaba?

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

do incerto

Um oco
Vazio
Uma caixa de fósforo
Um pássaro sem ninho.

Um até breve
Vazio
Um até logo
Sem destino.


Desatino.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Final Feliz e censura no último capítulo de Amor e Revolução

Adorei o final feliz entre o casal de mulheres na novela, e não haveria de ser diferente com tamanha aceitação do público e resultado de mais de 80% a favor do casal em votação no site oficial da emissora. E independente da discussão da qualidade do texto final, se haveria de ser mais extenso, mais romântico, acho que deveria sim ter acontecido o beijo, porque se fosse um casal hétero haveria o beijo em sua cena final da história de amor. Acho incrível que essa história tenha sido escrita e o primeiro beijo entre duas mulheres na televisão brasileira foi realmente importante, um marco, maior ainda que as bitocas distribuidas pela participante assumidamente lésbica (ou "bi") Diana no Big Brother. Mas devemos sempre pensar como seria feita a cena se fosse um casal hétero. Da mesma maneira como as atrizes disseram que foram orientadas pelo diretor da cena do primeir beijo: "Pensem que é uma cena da Maria com o José (protagonistas). É igual, não muda nada". 
O fato de não ter aparecido o beijo, com a cena congelada na hora h, não é "culpa" das atrizes, que se esforaçaram, que deram sensibilidade às personagens e gravaram a cena de beijo, também não é "culpa" do diretor ou do autor, pois a cena foi escrita e dirigida, existiu. Mas não foi exibida. A inconstância maior no fato é a censura feita, não sei se por Silvio Santos ou outro indivíduo dentro do SBT. Fica estranho e incoerente uma censura em uma novela que busca justamente criticar esse comportamento ocorrido na ditadura brasileira. Li que censuraram o segundo beijo e a cena de sexo do casal Marina e Marcela porque a diretoria do canal não queria perder o público conservador do SBT,em grande parte evangélico. Uma pena. 
Mas de qualquer forma fica o reconhecimento pela história representada, pela entrega e profissionalismo de ambas atrizes (e de diretores e autores). Eu a a Maria Gabriela ficamos sem ar com o primeiro beijo lésbico! (Segundo revelou ao entrevistar a atriz Luciana Vendramini). Foi uma prestação de serviço que vocês fizeram às famílias brasileiras! Que venham outras Marcelas e Marinas, e Marcelos e Antônios. Nossa televisão e país agradecem.

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