quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

do flash 2

Ela1 ouviu um barulho e acordou sem abrir os olhos.
Escutou a porta do quarto gemer e a voz de Ela2 a despertar-lhe:
- Eiiii... tá acordada?
E diante da sua afirmativa com o polegar -continuava deitava de bruços na cama, sem mover-se - ouviu a outra rir:
- Sério, tá todo mundo acordado, só falta você.
Silênco absoluto na casa, entrecortado por grilos e sapos, talvez.
Ela1 levantou o rosto do travesseiro e olhou a janela: breu:
- Looooooooooouca, tá escuro, não tem ninguém de pé. É insônia, é?
- Também. Me faz companhia?
- Se você conseguir me acordar...
E sente o edredom passando por seu corpo, deixando-o com frio. Ela2 o puxara.
Encolheu-se abraçando o travesseiro a esconder o rosto que sorria, fazendo certo charme na voz:
- Assim não, né?
Sente um peso no canto da cama e de repente uma lambida suave na parte de trás do joelho:
_ Assim?
Ela1 vira-se, toda em sorrisos.


primeiro flash em: http://diariodeumaescritorapreguicosa.blogspot.com.br/2012/10/do-flash.html

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

caiu na rede é peixe

ela tem uns olhos assim
com umas olheiras assim
espremidinhos assim
que me deixam assim
a cada foto nova colocada em rede virtual.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

do jogo

eu odeio joguinhos
mas com você
tenho que fazer
pois se eu for eu
você não vai querer.

ai caramba carambola caramujo cambalacho
ai caveira casca dura cascavel e rapadura.


trilha sonora: http://www.youtube.com/watch?v=yKV2WdyyCQw
rarara

sábado, 26 de janeiro de 2013

Magdalena I

Magdalena
tinha mirada forte
um olhar de contorno brilhante
delineado
esverdeado
que me penetrava.
Precisava forçar-me séria
para o sorriso não soltar-se
a trair-me.
Mas atrás do copo de cerveja
ela me olhava
(não havia mais ninguém a não
ser os homens velhos
que ainda restavam no bar
oferecendo-nos bebidas).
Ela chamava atenção
acentuada com um lenço
na cabeça
nenhum fio se rebelando
e o rosto forte
imponente.
Não havia nada na mesa
a não ser a cerveja.
Nenhuma distração.
Na rua parou um carro
de polícia
piscava luzes
_ Você parece boate,
ela disse.
E olhava fixo.
Eu,
que me achava tão segura
me via ali,
aberta, vulnerável.
Onde estariam meus anticorpos
que não trabalhavam?
Pára de me olhar assim,
eu dizia,
tapando-lhe levemente
os olhos
em brincadeira.
Ela sorria.
Eu a tocara.
(Em verdade já antes:
cheguei de táxi, chovia
eu molhada
ela me esperava
percebi-a de longe
- míope guarda trejeitos -
atravessamos a rua em seu guarda-chuva
seu braço longo abraçava meus ombros
ela tocara-me.
tremia.)
Jamais lembrarei as palavras ditas
saídas como vômito
de algodão-doce
sem filtro
feito flechas
tentando cegar aqueles olhos de capitu
que me petrificavam
e me botavam a falar
como doida
ou criança com sono,
quizás.
Fechou-se o bar.
E aquela rua tão movimentada
de dia!
Parecia viagem
parecia outra cidade.
Sempre gostei do frescor e silêncio
da noite.
As ruas com poças
ainda da chuva.
Sombras coloridas nos olhos
um homem passa
um carro passa
um rato passa
não há ninguém além da noite
já começo de amanhã.

(continua..?)


sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

do tremor da gruta fria

de súbito despertei
(de frio
de cerveja
de espumante
de imagens
de você)
os olhos PLÁ!
abriram
e aos segundos me situei
percebi-me quase nua
sem coberta
plainando ao lado do seu corpo em sono
(repito-me em versos)
tive receio que despertasses
(não sei o porquê).
horas antes eu não sentia-me em transe alcoólico
cabeça que não libera o corpo
de pronto.
despacito
levantei-me em blusa
meu peito frio
deixei aurora a dormir
não havia mais ninguém.
uma gata dormia na rede
outra acompanhou-me
até a geladeira
dois copos d'água
quatro mulheres em casa
cios e miados
silêncio e pão na janela
tentei distrair-me do álcool
agora tão tardiamente vivo
em mim.
voltei.
o quarto tão frio
você não parecia sentir
tentei a coberta
(notei que fechara as cortinas)
você dormia por cima dela
tão entregue
tão serena
que eu não podia acordá-la
(também por aquilo do receio).
sua presença
ainda que dormindo
me trazia insônia
mas eu precisava dormir
para não vê-la acordar.
consegui cobrir uma perna
a parte canhota do corpo tremia
pensei mudar de lado
mas o corpo cansado
aconchegou-se
delicadamente
ao seu
e dormiu.
dormiu que só o notei
quando do outro acordar
(ainda não último).
mexemo-nos
aurora abraçou-me
com braços e cabelos
proibindo movimentos ao meu corpo
notei que estávamos agora
cobertas
não sei de certo quando
você nos aqueceu
pena,
não vi.
senti seu perfume
inebriou-me e desacordou-me.
acordaria uma hora mais tarde
sentindo-lhe desperta.
com receio de abrir os olhos
e saber,
abri.
(ou então,
pois não me lembro,
eu levantara outra vez
e dera de comer às fêmeas,
à caça em terreno desconhecido,
e retornando à gruta
presenciei-lhe abrir os olhos)
bom dia!
sorri sem disfarces
sem máscaras alcoólicas
deitei ao seu lado
para que não levantasses
pois que era o grande momento
(in)esperado: e depois?
e respondi-lhe junto às cigarras:
oito e meia.


trilha sonora: http://www.youtube.com/watch?v=6meCeevzWZo 

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

aquariano astronauta aniversariante do dia

Era assim que eu o via
como um marinheiro
no entardecer
um barco vagando solitário
no mar
Dizia ter poucos amigos
não sentia precisar das
pessoas
Ainda assim amava
se preocupava
era carinhoso
Mas da fala não era rei.
Era assim que eu o via
aquariano astronauta
no espaço
Seu céu era o sítio
a grama
os cavalos
o silêncio
e o radinho de pilha.
(às vezes eu também precisava da solidão)
Calado
engraçado quando bebia
sempre me surpreendia
quando de mim algo
ele sabia.
Não há certezas de ser.
Cada homem é um mundo
que lhe é certo
que lhe é o bom.
Eu o admirava.
Pelo seu grande saber
pelos livros tantos que lia
pelas boas músicas e discos que ouvia.
Gosto do que lhe gosta.
Gosto-lhe por me sentir tão parecida a ele.
Tantas vezes me vejo igual
no ser, sentir e gostar.
Meu pai, de quem herdei
rosto, traços, gostos e jeitos.

texto que escrevi para meu amigo-oculto - natal 2012

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

do escrito no bloco de notas do celular de madrugada



Por um momento eu te ouvia.
E era só tua voz ao redor daquela janela fria.
Uma noite abafada.
Odeio calor mas achei bonito teu cabelo grudado
no rosto de suor.
Quis tirar.
Mas sabia do meu risco,
o perigo do toque.
Você falava.
Eu desejava tua boca
como
há tempos
não me hipnotizavam assim.
Meus olhos em tua boca querendo-a
na minha.
A vontade da tua pele
teu hálito
teu cheiro
e dor.
A vontade de fazê-la mais feliz.
Ad
(e aqui acho que adormeci)

domingo, 20 de janeiro de 2013

gramatica y insomnio

em espanhol Y é o elemento de ligação
acrescenta
se há um Y no texto é porque algo não está só
é par (no mínimo)
Y é companhia
Y é inverso a solidão
estrangeira
entre parênteses é ok
ípsilon, i griega, i grec
já disse que não gosto de letras que ultrapassem a linha do caderno
dependendo de quem escreve, Y ultrapassa
desce mas volta
ou não
ou nem desce
Y não se deixa descobrir o passo
Y me provoca com sua perna
por baixo
mas lhe gosto por seu sotaque
do espanhol ao tupi-guarani
tamoyo esporte clube de cabo frio
yakisoba, shoyo, yo
y su mamá también.
vovó quis embelezar:
Y no nome das filhas
minha mãe e madrinha.
a nova ortografia oficializou o Y na teoria
na prática ele sempre esteve em nós
em mim
Y,
externa
tão estrangeira
tão terra.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

sua cherry bomb

viagem de carro
chuva fina na estrada
em turnê
internacional

o automóvel está cheio
de sons
de beijos
de rostos tão conhecidos

acordar numa cama de hotel
com lençol no corpo
e patins nos pés

o vidro do carro pinta manchas
no colo e na testa
selvagens e sem sutiã

cherie
o amor é uma ampulheta
e se não nos detivermos?
que tal nós nos derretermos?

vorazes
todos
delirar é sobrevivência

a melhor cidade
da américa do sul
você tão precisa
você precisa

falando da vida
beijando virilha
nos preenchendo

os grandes espíritos se encontram
todo canalha é magro
nós não temos vergonha.






segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

memória medicinal I

sou difícil pra tomar remédio
uma época eu tomava vitamina
centrum
partia em três com uma faca
e bebia com iogurte
uma frescura só
na época do pré-vestibular
eu tomava um para memória
chamava memoriol
juro
minha mãe disse que desde bebê
fui fraquinha
imunidade baixa
toda hora doentinha
ela, jovem e em outra cidade
chorava, tadinha.
mamei pouco no peito.

domingo, 13 de janeiro de 2013

pq ela faz isso comigo? I

- desculpe, não dá, estou apaixonada por outro.
- então pare de encostar!
- mas é bom encostar.
(e a noite segue nessa dinâmica assim)

tema:
http://letras.mus.br/paula-toller/46798/

sábado, 12 de janeiro de 2013

a boazinha heim: parou a bicicleta para olhar o cais

parou a bicicleta para olhar o cais.
a vida girava em sua cabeça
por mais sereno que seu rosto parecesse
sabia que um encontro seria estarrecedor
ela sabia
nada podia fazer

(continua...)



quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

da conclusão em vão

"eu nunca estive tão apaixonada"
um dia depois, uma nova paixão.
será o amor ilusão?

signos de terra tem pele sensível


passando a esponja pelo braço esquerdo
embaixo da água fria
senti doer
ali, perto do ombro
tirei a espuma
marca alguma
só a lembrança sensorial
da vacina
de uma mordida enjaulada.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

do bairro preferido


cada ruela deserta
cada trecho
chão em flor
a brisa
o papo nas cadeiras de praia na esquina da igreja
a praça serena
um homem apenas
o boteco exótiko
e o restaurante chique
o corredor de janelas azuis da eterna casa do príncipe
as casas sem muros
o bairro mais antigo
o cachorro que passa e olha
os tantos barquinhos do cais
não parece que o mundo parou
parece um refresco
o pescador tira a água do barco com um potinho
o senhor de blusa e sunga passa com seu boné, tênis e rede para pescar
não há barulhos
passa um jet ski
a moça de maiô está sendo fotografada
passo de bicicleta e ouço o radinho ligado em uma casa
tento mas não consigo ver seu interior
meu desejo é conhecer o interior dessas casas, dessas vidas
duas mulheres com adolescente meninas passam falando sobre gelatina
vão pegar o barco para atravessar para a ilha
logo as vozes estão longe
às vezes dá para atravessar andando
mas a maré está cheia e elas carregam coisas
seria bom um piquenique no cais
logo as vozes estão longe
o tempo não parou
só deu um respiro
passagem é o bairro da eterna siesta.


Passagem, Cabo Frio, 03 de janeiro de 2013

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

corte e costura


Tenho observado um coser.
Na pele do meu antebraço direito.
Há tempos tenho uma espécie de cravinho persistente.
Hora ou outra cismo em cutucar, tento içar com pinça, com o intuito de ver o buraquinho que fica. 
Mas acabo por ferir a pele toda ao redor.
Só noto depois.
É um ciclo-pacto entre mim e meu corpo.
E dias depois, eis que o milagre da pele começa a agir.
As bordas grudando como se costuradinhas, casquinha, e vermelhidão dando lugar ao rosado.
Tudo bem lentamente.
É vida.
Amo corpo.

pena a qualidade do celular ser tão ruim.
a poesia às vezes (tantas) não é ficção.
 e vejam que as linhas na ferida parecem formar um coração.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

hell p me

folhas verdes. folhas secas. folhas molhadas. verde-marrom-verde-marrom. formiga carrega semente redonda azul. água escorre. tempo não corre. cachoeira me socorre.

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