sexta-feira, 11 de agosto de 2017

[alerta textão. pessoal, feminista e sapatão]


Colocar os pensamentos na roda requer coragem. E isso Evelyn Silva tem de sobra. Que sorte a nossa. Lá nos primórdios, na graduação da Letras na UFF, eis que surge essa figura maravilhosa e, com sua amizade e presença, tira uma galera do armário. Parece engraçado, e até é, mas também não, e explico: Eu namorava uma menina, mas não ficava amorosamente com ela na frente das pessoas, algumas amigas menos próximas não sabiam, nem irmã, família zero. Pense... é horrível viver assim. A gente até se acostuma, mas não se sente plenamente feliz, inteira. Enfim. Saltemos. 

A questão da bissexualidade. Há preconceito tanto de mulheres héteras quanto de lésbicas. Estou falando apenas de mulheres aqui porque é disso que o texto na Revista AzMina da Evelyn trata. Relação afetiva entre lésbicas e bis. Eu mesma já torci nariz, por todas as questões que a Evelyn fala lá. Mas né, Brasil (triste brasil), a gente amadurece, e aprende que há diversidade dentro da diversidade, da diversidade... Já estive em relacionamento com mulher bissexual. Foi estranho de início, mas enriquecedor. Porque na diferença a gente cresce e aprende. 

Outro dia, cresci mais, outra vez. Pela naturalidade com que uma mulher bissexual beija outra mulher na rua. Pelo espanto dela com a lesbofobia (e machismo, misoginia, etc, que merda). Pelo espanto meu com a coragem dela. Pelo espanto nosso com o meu não querer demonstrar meu afeto assim, por medo, por memórias ruins minhas e de tantas. É o machismo duplicado. É triste a gente perceber que naturaliza o horror. Enfim. Saltemos. 

Leio esse texto da Evelyn e concordo muito, e reflito, e agradeço. Precisamos falar sobre isso sim. E, às vezes, é preciso (de necessário) se expor para isso. Seja escrevendo textão nas redes, seja escrevendo em revistas, filmes e canções. Seja beijando mulher na rua. A gente tem que naturalizar o amor. E é na existência que a gente resiste.

Para abraçar seu irmão e beijar sua menina, na rua, é que se fez: o seu braço, o seu lábio e a sua voz.  

Gracias, Evita, por tudo que você me (nos) fortalece, sempre.
P.S:E tá rolando reação desfortalecedora por parte de leitoras bis da revista, que triste, o mundo anda muito sinistro para quebrarmos nosso próprio rolê.

cartas de ana cristina cesar

Trechos que copiei das cartas da Ana C, como prometi no insta @outrasbagatelas :
* "Cartas e biografias são mais arrepiantes que a literatura."
* "E estou gostando muito do Adrian. E a distinção "to like" x "to be in love" não faria muito sentido pra mim. Pra mim, o importante é você se lançar e não ter a priori um sentimento x ou y."
* "(...) te mando o meu estado do momento, o estado mais inútil e passageiro e sem saída que há: o mau humor. A depressão pode ser criativa, a angústia também. Mas mau humor é foda."
* "Penso também na fluência que me despertaste. Estou acesa e escrivinhadora."
* "Pequenas, desprezíveis, mas meu deus, juntas!"
(este último trecho discutindo com Ana Candida Perez a tradução de "A chegada da caixa de abelhas", de Sylvia Plath.

pelos pelos

Eu mesma, "tão feminista" para alguns olhos, encaro meus pelos todos os dias - todos -, reflito, estranho, admiro, penso em raspar tudo, evito, às vezes aparo, reflito, e ao final me orgulho, porque enquanto eu tiver vergonha de levantar meus braços em público, não posso depilá-los. E não é só por mim que assim o faço.

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