o cachorro fugia da chuva.
e eu tentava
através dela
fugir dos meus pensamentos.
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
domingo, 5 de dezembro de 2010
o dia em que ela descobriu as passas
ela estava ali.
o alimento, em grande número, enrugado e escuro sobre sua mão.
evitou olhar de perto, aproximou, abriu a boca.
sorveu-as.
mastigou e achou diferente, de um seco úmido.
fez cara feia porém engoliu.
já estava na idade de aprender a gostar de passas.
mas fígado e ovas, jamais! , pensou.
o alimento, em grande número, enrugado e escuro sobre sua mão.
evitou olhar de perto, aproximou, abriu a boca.
sorveu-as.
mastigou e achou diferente, de um seco úmido.
fez cara feia porém engoliu.
já estava na idade de aprender a gostar de passas.
mas fígado e ovas, jamais! , pensou.
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
memórias
Pela janela do ônibus senti cheiro de café. E que vontade de mudar o trajeto e ir visitar minha avó em terras cabofrienses. Mas a casa virou um escritório e, infelizmente, eles não estão mais por cá.
Minha avó de nome lindo, Maria Aline, costurava pra gente. Nunca em minha vida comi panquecas como as que fazia. Meu avô, franciscano, espírito jovem e doces olhos azuis. Pescava, gostava de telejornal e rádio. Levava a mim e minha irmã na bicicleta, juntas. Nos comprava iogurtes que, de tantos, estragavam na geladeira. Deixava apoiar o pé na mesa. Vovó não gostava muito.
Tinha quintal galinha varal de arame escorado com pau janelas direto pra rua goiabeira e botões de rosa. E o tradicional café com a família toda quarta-feira. Ideia de minha mãe. E pensar que em criança às vezes tinha preguiça.
Que vontade de mudar o rumo do ônibus. Da vida. Ah esse cheiro de café que embarga.
Minha avó de nome lindo, Maria Aline, costurava pra gente. Nunca em minha vida comi panquecas como as que fazia. Meu avô, franciscano, espírito jovem e doces olhos azuis. Pescava, gostava de telejornal e rádio. Levava a mim e minha irmã na bicicleta, juntas. Nos comprava iogurtes que, de tantos, estragavam na geladeira. Deixava apoiar o pé na mesa. Vovó não gostava muito.
Tinha quintal galinha varal de arame escorado com pau janelas direto pra rua goiabeira e botões de rosa. E o tradicional café com a família toda quarta-feira. Ideia de minha mãe. E pensar que em criança às vezes tinha preguiça.
Que vontade de mudar o rumo do ônibus. Da vida. Ah esse cheiro de café que embarga.
terça-feira, 27 de julho de 2010
la palomita
Vi uma pombinha ciscando com dificuldade no chão da calçada. Ela não tinha uma pata. Deu uma dó imediata em meu peito. Mas ela estava ali, segura, e tentando se revelar feliz (a mim). Lembrei de Frida Kahlo, como se la palomita me dissesse: "Pies para que los quiero...si tengo alas para volar." Sorri.
ansiedade literária
Sou muito ansiosa. Leio mais de um livro por vez. Para dar certo, misturo os estilos. Marighella com Caetano. E, porque não, Thalita Rebouças com Simone de Beauvoir!
sexta-feira, 28 de maio de 2010
Alento
clique para ouvir
ou só ouça sua voz:
Violão esquecido num canto é silêncio
Coração encolhido no peito é desprezo
Solidão hospedada no leito é ausência
A paixão refletida num pranto, ai, é tristeza
Um olhar espiando o vazio é lembrança
Um desejo trazido no vento é saudade
Um desvio na curva do tempo é distância
E um poeta que acaba vadio, ai, é destino
A vida da gente é mistério
A estrada do tempo é segredo
O sonho perdido é espelho
O alento de tudo é canção
O fio do enredo é mentira
A história do mundo é brinquedo
O verso do samba é conselho
E tudo o que eu disse é ilusão
paulinho da viola.
ou só ouça sua voz:
Violão esquecido num canto é silêncio
Coração encolhido no peito é desprezo
Solidão hospedada no leito é ausência
A paixão refletida num pranto, ai, é tristeza
Um olhar espiando o vazio é lembrança
Um desejo trazido no vento é saudade
Um desvio na curva do tempo é distância
E um poeta que acaba vadio, ai, é destino
A vida da gente é mistério
A estrada do tempo é segredo
O sonho perdido é espelho
O alento de tudo é canção
O fio do enredo é mentira
A história do mundo é brinquedo
O verso do samba é conselho
E tudo o que eu disse é ilusão
paulinho da viola.
sábado, 20 de março de 2010
degraus
A cada degrau um novo passo uma nova entrega um despudor. ao topo, pequenas rajadas de vento, o cume, tufão: tira-se a escada construída. dessa vez a natureza é mais forte e o corpo atirado à imensidão. mãos agarrando o chão que se esvai em grãos. o corpo dependurado, a esperança já sem forças ou motivos para seguir. como cair sem a lembrança de cada degrau? será a queda por fim salvação para a angústia? saltando se pode construir degraus outra vez?
em 30/10/09.
domingo, 7 de março de 2010
À menor leitora
bem ligeira, a formiga
o livro tenta ler
mas quando o homem a percebe
um peteleco desfaz-lhe o prazer.
da biblioteca o livro é retirado.
as mãos ávidas do jovem leitor
segurando o tesouro quadrado.
(entre orelhas disformes junto a formiga vai.)
com os livros sobre a mesa
passa a formiga de um ao outro.
não que o volume a desagrade
mas agora quer ler o esôpo.
de repente são milhares
a entrar pelas janelas
que não tem escolha a mãe
(com inseticida em punho)
de acabar com a flip delas.
Aline Miranda em 08/01/10
o livro tenta ler
mas quando o homem a percebe
um peteleco desfaz-lhe o prazer.
da biblioteca o livro é retirado.
as mãos ávidas do jovem leitor
segurando o tesouro quadrado.
(entre orelhas disformes junto a formiga vai.)
com os livros sobre a mesa
passa a formiga de um ao outro.
não que o volume a desagrade
mas agora quer ler o esôpo.
de repente são milhares
a entrar pelas janelas
que não tem escolha a mãe
(com inseticida em punho)
de acabar com a flip delas.
Aline Miranda em 08/01/10
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
"O tempo é na verdade o do retorno.
Pensa como se agora fôssemos argila
E estivéssemos sós e mudos, lado a lado.
Por um momento (se viessem chuvas)
Talvez se misturasse o meu corpo com o teu
E um gosto de terra úmida aproximasse
Brandamente
As nossas bocas.
Que seja assim lembrada a tua ausência:
Como se nunca tivéssemos nascido
Sangue e nervos. Como se nunca tivéssemos
Conhecido a verdade e a beleza do amor.
Pensa como seria se não fôssemos.
E não houvesse o pranto, o ódio o desencontro.
O tempo é na verdade o do retorno.
Se não for amanhã, será um dia.
O céu azul e limpo, o mar tranqüilo
Pássaros e peixes, pássaros e peixes
Mais nada."
Pensa como se agora fôssemos argila
E estivéssemos sós e mudos, lado a lado.
Por um momento (se viessem chuvas)
Talvez se misturasse o meu corpo com o teu
E um gosto de terra úmida aproximasse
Brandamente
As nossas bocas.
Que seja assim lembrada a tua ausência:
Como se nunca tivéssemos nascido
Sangue e nervos. Como se nunca tivéssemos
Conhecido a verdade e a beleza do amor.
Pensa como seria se não fôssemos.
E não houvesse o pranto, o ódio o desencontro.
O tempo é na verdade o do retorno.
Se não for amanhã, será um dia.
O céu azul e limpo, o mar tranqüilo
Pássaros e peixes, pássaros e peixes
Mais nada."
Hilda Hilst, do amor contente e muito descontente nº12.
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
sábado, 9 de janeiro de 2010
Quadrinhas poéticas
passarinho, é tão cedo,
vá cantar em outro lugar!
desde quando nove horas
é horário de acordar?
o fantoche é um boneco
curioso e engraçado.
como pode falar tanto
tendo o rosto tão parado?
o zumbido da tv
competindo com o pardal.
o aparelho pronto desligo
tenho gosto, é natural.
"minha religião não permite"
é uma boa explicação
para justificar as cutículas
nas unhas de minha mão.
vá cantar em outro lugar!
desde quando nove horas
é horário de acordar?
o fantoche é um boneco
curioso e engraçado.
como pode falar tanto
tendo o rosto tão parado?
o zumbido da tv
competindo com o pardal.
o aparelho pronto desligo
tenho gosto, é natural.
"minha religião não permite"
é uma boa explicação
para justificar as cutículas
nas unhas de minha mão.
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