quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

confissões de adolescentes - episódo de hoje: el cuerpo

as noites podem ser bem doloridas às vezes, ainda que a dor não seja física, ainda que a dor não-física escorra também  pelo corpo. os olhos podem amanhecer fugindo da luz, a voz pode faltar, pode faltar também o ar. mas a roda do mundo gira e cada passo caminhado em cima do globo o faz girar também. sem movimento, morre-se. as palavras tem poder. de punhal e de cura.
tpm às vezes passa sem se notar. o corpo geralmente se faz perceber. é importante que a mulher, que o ser humano, perceba e respeite os sinais de seu corpo.

djavan toca na rádio: sorrir quando a dor te torturar e a saudade atormentar os teus dias tristonhos vazios.

a menina conversava - internet e seu poder de aproximar mesmo que se esteja longe-, agachou-se no chão da cozinha enquanto passava um café de almoço. o chão quadriculado. branco e preto. o pano fino do vestido azul. chorou, riu, nem sentia mais as cólicas da manhã, no ventre, no coração pesado. as palavras dela foram entrando, feito mantra, feito manto, feito alma, e o bálsamo, aos poucos, foi tomando-lhe os lábios, o pranto fez-se riso e o pulmão respirou fundo os novos ares e o aroma quente e acolhedor do café. despediram-se virtualmente. ela pensava na pesquisa. pensava no poder das palavras. nas decepções. nos afetos que se transformam. nas ligações importantes. 

mpb4 toca na rádio: eu já estou com o pé nessa estrada, qualquer dia a gente se vê, sei que nada será como antes, amanhã, que notícias me dão dos amigos? que notícias me dão de você? alvoroço em meu coração, amanhã ou depois de amanhã resistindo na boca da noite um gosto de sol.

a menina se levanta, leve, agora já sente fome. percebe-se com leve dor, percebe: menstruou. o sangue correndo pela conversa, pelo passado, pelo presente, pelos corpos, pelas terras todas, lavando e levando todos os fantasmas que ainda podiam sobreviver agarrados à pele, internos. a cor mais quente, as unhas cor vanguarda, quente o rio que não corre duas vezes no mesmo lugar.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

dos signos e dos significados

No banheiro a menina espirra
Dizem que taurino sempre espirra mais de uma vez seguida
Haverá muitas diferenças entre tauro y taura?
A menina espirra
O menino esporra
Que nojo! dirão
É corpo.
A água escorre no corpo da menina
Os poros se abrem
Enquanto no quarto a música abafa o som do ventilador
É verão
A menina se banha
Eu sonho.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

del boludo chico

me llenaba
de cariño 
y de ternura 
y de dulces

los pondría 
en mi cuerpo 
adentro 
con ganas

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

da companhia - III

minha alma gosta do toque do corpo
mas meu corpo gosta do toque da alma

dentro de mim o desejo é expansão
mas meu corpo fecha-se em fim

a mulher que em mim habita quer romper-se
mas ela habita um corpo covarde

ela não sabe ainda disso
por isso me faz suar
me faz chorar
estremecer

ela não é ingênua
é rude
mas habita minha timidez
minha falta de jeito
minha pouca lembrança

alma alienígena ano 3015 em marte
corpo terreno
terráquio
esquálido
sem arte
sem arde.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

sobre vanessa e todas nós






Uma amiga se feriu.

Ela não caiu de bicicleta, não tropeçou, não escorregou, não estava se arriscando de skyte, de altura, nada.

Ela foi ferida. por existir.

Sei que soa forte, soa exagero, mas infelizmente não é. E todas nós, suas amigas, estamos nos sentindo assim, machucadas, abandonadas, desprotegidas.

Sem poder contar com o Estado, e pior, com os seres humanos, outros, que viram e nada fizeram.

Para a sociedade não somos todos iguais. Nem para o guarda do teatro que não manifestou ajuda. Nem para o taxista que se recusou a levá-las porque a lapa era muito perto da praça tiradentes, ele faturaria pouco. Vivemos nessa sociedade suja onde 30 reais valem mais que a compaixão, o amor, a solidariedade.

E não dizem que não se bate em uma flor?

Vanessa é uma flor, é pequena e delicada, pacífica.

Ainda que fosse um cacto, o que leva alguém a agredir uma menina por ela estar de mão dada com sua mulher? O que leva alguém a se achar no direito de?

Eu já venho conversando com muita gente sobre a violência cotidiana que nós mulheres sofremos nas ruas, no trabalho. Há algumas semanas me senti violentada verbalmente por um homem, quando voltava para casa de noite com uma amiga. Ainda que eu racionalmente saiba que não tenho culpa alguma quanto ao comportamento abominável desse(s) sujeito(s), senti-me constrangida por ela ter presenciado tal cena. Eu ainda disse: por isso não costumo sair com vestidos assim, um pouco mais justos. E mesmo que ela dissesse que eu não deveria mudar meu comportamento, que o antissocial era ele, quererei eu passar de novo por tal situação?

Até que uma amiga é agredida fisicamente.

Por que nós mulheres, em pleno 2014, ainda somos vistas como objetos, carne, inferiores? Por que os homens, em pleno 2014, ainda se acham no direito (e quase obrigação) de exteriorizar verbalmente o que imaginam quando vêem nossos corpos? Ou eles acham que também não temos imaginação com peitos, paus, bundas, bocas? O que leva um ser humano a invadir o outro com gestos e palavras? A não respeitá-lo como igual? Não pensam que tal situação poderia ocorrer com sua filha, esposa ou mãe? Nem assim? O que leva um ser humano a pensar friamente: “olha aquele casal de lésbicas, vamos lá...”? O que o amor pode ter de tão agressivo que atinja um desconhecido assim? Que criação machista é essa que dão aos pequenos meninos para se transformarem em grandes monstros?

Infelizmente, a maioria das minhas amigas já passou ou presenciou algum abuso de teor sexual durante a vida. Isso é um absurdo. Isso é velado. E quando se fala, é criticada. Poucos desses relatos tiveram apoio de quem o escutou. Por sorte nunca passei grande constrangimento. Mas confesso que demorei muito a me sentir à vontade de biquíni na praia, por exemplo. Tenho eu culpa do corpo que habito? Temos nós culpas do amor que sentimos? Sei que não. Mas dói. E por mais esclarecido e sensível que um homem possa ser, ele não é capaz de imaginar o constrangimento que causa uma palavra suja, uma atitude ofensiva. Um homem não sobe a ladeira de sua casa e, já receoso, ao passar por um grupo de mulheres segurando cervejas leva um susto com uma que passa e grita ao seu lado. Nenhum homem, nem com sua calça de yoga, descerá até a praça e ouvirá uma mulher dizê-lo: “que vontade de chupar esse pau gostoso” (ou coisa pior que não gosto de reproduzir). Nenhum homem, passando em pé na bicicleta, receberá um tapa na bunda, com 11 anos, uma criança. Nenhum homem caminhando, também criança, com seu amigo terá seu pau apertado por uma mulher adulta que passa rápido de bicicleta. Nenhum homem, jovem, receberá uma ligação em sua casa dizendo: “você é o filho mais novo ou mais velho de Fulana? Então calma aí que estou gozando”. É pseudo cômico quando imaginamos a situação ao contrário, tamanha naturalização ela se dá na relação homem –> mulher. Mas todos esses fatos aconteceram, comigo ou com amigas. O caso da homofobia segue esse mesmo pensamento machista: você existe mulher, você existe lésbica, merece apanhar, ser apalpada, ouvir meus desejos. Por quê?

Uma amiga professora conversou com um aluno que estava dizendo que queria “bater naqueles viadinhos que entraram na escola”. Ela tentou explicar que os meninos não lhe faziam mal algum e que, mesmo assim, ninguém pode agredir. Ele só respondeu “eles são gays, TEM QUE apanhar”.

Vi dois vídeos essa semana por acaso, via facebook, que retratam talvez a melhor maneira de aclarar a gravidade dessas situações, que nos dias de hoje não deveriam AINDA existir. Os vídeos tratam de machismo e homofobia fazendo a inversão de papéis: num mundo onde a maioria é homossexual e uma menina se descobre heterossexual e sofre com amigos de escola e família ao ponto de..; e outro onde um homem sofre abusos verbais e físicos na rua enquanto as mulheres passam sem camisa, torcem o pescoço ao vê-lo passar, e são a maioria ao atendê-lo na “delegacia do homem”.

Numa semana onde duas garotas são quase presas após chamarem a ridícula “lapa presente” (“de grego”, alguém disse bem) para defendê-las de um agressor em frente ao bar da cachaça, recebendo pouquíssimo apoio dos que estavam perto, de amigas sofrerem tal violência física por nada e também se sentirem sozinhas sem ajuda alguma.... Como continuaremos a viver? Como continuarão a viver? Teremos que seguir a cartilha da Folha, sem “dar pinta”, teremos que nos trancar em casa? Usarmos burca, talvez? Que Lapa é essa? Que Cidade Maravilhosa é essa? Que sociedade de merda é essa em que calhamos de estar vivendo agora? Azar o nosso?

E eu que jurava que a abertura sobre a temática homossexual estava trazendo esclarecimento e respeito à população, percebo que ela traz consigo também uma violência cada vez maior e menos escondida. E o que, afinal, fariam os guardas do “lapa presente”, ou o segurança do teatro João Caetano, ou o taxista? Eles não acham que é errado, pois COM CERTEZA fazem o mesmo quando vêem uma mulher ou um casal gay nas ruas.

Lembro que minha mãe, quando eu era criança, me dizia que tínhamos que arrumar sempre a cama, caso contrário nosso anjo da guarda não acordaria e nos acompanharia durante o dia. Domingo ao acordar, li a mensagem de Vanessa. Demorei para entender que era dura a verdade. Vanessa e Lady são vizinhas do prédio onde moramos muitos amigos. Fui vê-las, e na pressa, percebi que minha cama ficara desfeita. Olhei para trás, e chorando, deixei. Percebi que não há anjo da guarda algum.







“É preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte”.

É triste, é verdade.




p.s: na mesma noite, sem saber ainda do ocorrido, saía do Leblon com um casal de amigas gays, e do outro lado da rua, um homem disse algo, olhamos só mais longe e ele estava bufando como um touro, em posição de ataque, literalmente como um animal. nojo.




p.p.s.: passadas 24h, após conversas, diálogos, visitas, percebi que talvez o anjo da guarda das meninas estava no único rapaz que foi em direção a elas ajudá-las, fazendo com que os covardes animais fugissem. se não fosse ele, o que seria...? nem pensemos.

percebi também que é importante não generalizar. ontem conversei com um taxista e ele me contou que na noite anterior duas meninas haviam sido assaltadas e ele as levou até uma delegacia, gratuitamente. ainda há humanos nesse zoológico dos horrores, amém.







o relato de Vanessa Holanda:

"ontem, voltando de um bloco de carnaval aqui no RJ, 2 homens me derrubaram no chão, me arrastaram no asfalto, me chutaram, rasgaram minha calcinha, arrancaram meu top e me deixaram quase nua na calçada do centro da cidade. o lugar não estava vazio. tinha gente, muita. tinha segurança, sim. era um lugar iluminado.

o meu corpo é pequeno, não precisa de muito chute pra deixar ele completamente tremido. mas eu não vou a polícia. não vou pq eles também não se importam. não vou fazer exame de corpo de delito, nem na delegacia, nem no médico. eles estão do outro lado, amigos. ontem a noite eu me senti minoria. e que ninguém além dos meus pode ser comigo. nós estamos sós. não dói.”




O relato de Leidiane Carvalho:

“Vanessa Holanda é minha mulher. Estávamos juntas na hora dessa agressão. Ontem sofremos muitos atos de violência. Não só dos caras que nos atacaram, mas do segurança do Teatro João Caetano que não nos ajudou, das pessoas todas que estavam em volta e se omitiram, apenas olharam enquanto apanhávamos, do taxista que se negou a nos levar em casa porque a corrida daria menos que dez reais. Um rapaz foi o único a vir nos defender e se não fosse ele não sei o que teria acontecido. Queria muito saber o nome dele pra agradecer mais uma vez e saber direito o que ele viu, porque depois de uma violência tão grande a memória nos trai. Quero agradecer as muitas mensagens de solidariedade e orientações sobre como proceder e denunciar. Queremos lutar e reagir, agradecemos muito a todos que tem se manifestado mostrando que estão disponíveis pra o que precisarmos. Vamos encontrar os meios certos de fazer a denúncia com sua ajuda. E força pra todos nós.”







sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

via reiki

um dia teremos tempo e farei tranças em todo seu cabelo enquanto sonhas

um dia teremos tempo e leremos juntas todos seus amarelados livros de velho oeste naquela praia tranquila

um dia teremos tempo e beberemos vinho no sítio e nos beijaremos e de noite cairemos nus na piscina após ler poesia

um dia teremos tempo e farás barquinhos de papel que do barco lançaremos ao mar sorridentes

um dia teremos tempo e escreverei poemas em teu corpo esguio

um dia teremos tempo e deitaremos sobre a grama após o sexo para me mostrares as estrelas como deve ser feito segundo aquele livro

um dia teremos tempo e dançaremos todas as canções dos bailes de outrora, corpos colados, meus pés sobre os seus

um dia teremos tempo e depositarei em seus chakras as pedrinhas coloridas que comprei na viagem

um dia teremos tempo e leremos toda a coleção das tirinhas da aline que teremos comprado

um dia teremos tempo e iremos para sua casa em búzios para escrever e eu te olhando, boiarmos no azul

um dia teremos
um dia
esse tempo

quem sabe em outra vida?

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

da companhia - II


tem uma mulher que ri e que chora dentro de mim 
eu não a deixo sair 
e me dói fisicamente toda a sua angústia

deito e suo 
durmo e oro 
choro em sonho 
imploro

ela não se vai 
não se esvai 
e me sussurra 
só partir 
em gozo.


quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

da companhia

você que não conheço
que me invade sonhos
e levas minha mão a tocar-te

você que não tem sexo
que me desperta aflita
sem ao lado meu pousar

você que é todos os sexos
que povoa minha mente desperta
trazendo frescor aos dias de verão

você que não nasceu
que não tem corpo ou massa
mas faz-te presente em mim.

rabo de peixe

a conversa durou o mesmo tempo dos gelos
no calor do copo de mate
limão

nem o súbito vento fora capaz de varrer
as migalhas ainda frescas
do passado

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

aham cláudia

peço desculpas agora que sei que há quem receba atualizações daqui por email mas é um mantra que precisa ser escrito:

"última encarnação" é o olho do teu cu.


ommmmmmmmmmmmmmmmm
ommmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm
ommmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm

gracias.

uma aprendizagem ou o sonho dos prazeres

1- Ver um hamster em seu sonho representa emoções reprimidas.
Você está se distanciando das pessoas para não se magoar.
Também pode significar sua postura frente à sexualidade. 
Você consegue separar sexo e amor.


Moça, mas tem daquele ratinho que parece ter corpo de cavalo?

2 - Cavalo: o cavalo é o símbolo da força e da paixão.

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