terça-feira, 25 de setembro de 2012

dos deuses, da solidão

os deuses dos sonhos
os deuses do espanto
tremem de medo
a cada noite
em suas camas vazias.

os deuses correm contra o tempo
contra as cinzas
o mofo
o acelerador dos veículos
terrenos.

enquanto cada um dos deuses
se agita
sem conseguir dormir
minha rede balança
com o vento
meus cabelos balançam
com a rede
e os sinto acordados tão perto de mim.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

do culpado inocente

porque tudo que começa acaba um dia.
mas vem esse maldito frisson do início
nos fazendo esquecer tudo
e tentar mais uma vez.

ainda tem o seu perfume pela casa.

prefiro sentir cheiro de mofo
agarrado às roupas guardadas
do que seu cheiro que as invade
e num instante
molha esses olhos calados.

sábado, 15 de setembro de 2012

Da boemia

Ando nua pelo apartamento.
Ouço ao longe o soar do sino.
O gato tinha fome.
Talvez fosse melhor assim.
Fez festa ao me ver chegar. O gato.
Enquanto tu me deixavas caminhar sozinha pelas ruas.
Mania besta de confiar nas pessoas.
Os pássaros voam com batidas fortes de asas, posso ouvi-los tão perto.
Tenho gosto de cigarro na boca.
O gato tinha mesmo fome, me esperava.
Enquanto tu, tu fugias em outras bocas e abraços.
Talvez ele me queira bem pelo prato servido.
Se lambe todo.
Mas temos uma relação fervente que se busca.
A bateria acaba, a noite também,
Tantas fumaças em vão, tantos goles, passos.
Ando nua pelo apartamento.
A luz começa a invadir o breu da sala.
Giro toda, gira a mente, o sonho, o desejo de corpo.
Ando pelo apartamento, e nua, penso no que se perdeu.
No que você em mim perdeu.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

ando tão à flor da d'appelle

a flor foi descendo os andares
de névoa fria
de paredes cinzentas
de pessoas tristes no ponto de ônibus
de pessoas cansadas correndo em calçada

a flor rodopiou
foi caindo
de pétalas para baixo
e sem barulho
tocou o tão já sujo chão

o homem não viu de onde ela veio
mas a flor passou por seus olhos-atrás-de-vidro

olhou a flor no chão
e logo dois sapatos
que carregavam a menina
que se abaixou
apanhou a flor
lhe sorriu
e saiu
apressada como tantos ali
mas leve
feito a flor que voou no céu do entardecer daquela cidade.

sábado, 8 de setembro de 2012

vc é um doce.

"vc é um doce.e merece alguem bacana.vc vai achar. sério."

o novo sempre vem, meu bem
sei que assim falando pensas que esse desespero é moda em 73,
um tango argentino.
mas eu queria ser elis
toda desenhada em giz
uma eterna aprendiz
onde o amor será juiz.

vai vendo...

o brega sempre vem, meu bem.
mas nós somos lixo, você e eu.
os dias de preguiça
talvez seja nossa doçura
somos as amantes na rua.

vai sendo...


(queria ver você aos 16 anos, esguia,
com a bolsa a tiracolo
além de não saber como fazer
pra ter um jeito meu de lhe mostar
explicação nenhuma isso requer)

vê se olha com carinho
hoje mesmo
e o tempo que demora para decidir
aqui tá frio, não há vinho, venta tanto
eu posso esperar.
nenhum amor é imortal
não tenha medo.


todos os direitos aos autores.





quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Sol de Setembro

                                                          A Helena Martins

Setembro é primavera mas meu aniversário é ainda inverno.
Mas setembro.
Sol de primavera, abre as janelas do meu peito.
Cada cheiro do novo, a roupa segura no varal querendo-se livre.
Uma brisa mansa, as sementes que brotam.
Há esse ar.
Para todos?
Quero rodar, rodar, ver o mundo em giro, passando, correndo, pinceladas manchadas em sorrisos, vertigem, feito criança leve. (Para de rodar, menina, ou vai ficar tonta!) Mas não vê que é isso o que eu quero? Ver tudo girando, dar outro respiro à vida, confundir teto com chão?
E depois caio lenta, deitada nos paralelepípedos repletos de grama molhada, molha o pescoço, vestido, coxas. Molham-se os olhos que abrem tontos ao céu.
Parece que vai chover.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Flores com 50% de desconto

Estava em casa, sozinha, no meio da tarde fria. As 16 horas lhe traziam estranha melancolia. Todos os dias. Todas as tardes sozinhas. Chovera. Estava escuro ainda. Resolveu abrir as janelas e molhar as plantas tão poucas e frágeis como ela. Queria encher seu jardim de flores. Vermelhas.
Cantarolou se meu jardim der flor, colore minha saudade.
Tão fácil o amor.
Queria ser Alice Braga numa nightwalker, mas não sabia falar inglês. ainda não sabia.
Em breve seria.
Tudo no preto e no branco. Tão riso no pranto.
Calor no peito selvagem, massagem escura, sombra, névoa, fumaça dura.
Cerveja que deixou tudo embolado por dentro do peito, do enjoo, da vontade de dormir.
Há sempre um lado que pesa e outro lado que flutua. Tua pele é crua. É macia, não é minha, não é pura.
Mas naquela noite que eu chamei você...
Foi molhar as plantas, vestido solto, pés frios, cabeça quente.
Respirou, abriu a porta e viu.
Buscou por nome, sobrenome, apelido e telefone.
Não achou mas viu.
Give me your love, love me alive, leve me leve.E se acaso você chegasse no meu chateau e encontrasse aquela mulher que você gostou?
A vizinha coloca uma música romântico-triste para tocar.
Mas viu,
lá estava ela.
Mais uma inspiração para as letras suas. Dela.
A boca ainda sem batom, a aparência arredia, o olhar.
E as flores com 50% de desconto. Mas quem as traria?


(continua...)



terça-feira, 4 de setembro de 2012

do corte na boca

chorando. corta. sonhei com você. tesão. corta. é hora do show. corta. lápis nos olhos. renda. corta. penélope cruz no alto do prédio. um peixe. corta. mãos na cintura. corta. qual seu nome mesmo? corta. você está exclamando. não chora. apaga esse cigarro. corta. vire a folha. você nunca falou comigo antes. corta. o cabelo. corta. diet shake. corta. não me chame de ciumenta neurótica. era feeling meu. corta. hipócrita. corta. vou sem carro então. corta. que desgraça. força. isso não é uma cantada, juro. tipo exportação. corta. uma, duas, três. um almoço qualquer dia desses. corta. eu acreditava tanto em vocês. corta. vinho. corta. ceveja. corta. eparema. corta. ah não, artista plástica. corta. você também escreve, né? corta. esqueci como se faz. corta. tá cheiro de cigarro? corta. vem. corta. mas eu não fumo. corta. queria tanto (en)cantar. a gente gostava tanto de você. corta. lua cheia. corta.  doce no copo. dose no corpo. corta. corta. corta. ação!

por um segundo mais feliz

rimas fáceis, calafrio, fura o dedo, faz um pacto comigo?

embora pela superfície

se mostrava sadia
sádica
foi:
embora
pela
superfície
que chorou
de joelhos
no azul tão puro
desse céu de abril.

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