terça-feira, 8 de abril de 2014

das deusas L e M (trechos)

fui devota do altar cujo pedestal me era mais próximo, cujo santo eu podia tocar com consentimento, sem disfarces. lucíola era uma deusa _ _ _ _ _ _ _ ora. só perdia em devoção minha para m., a _ _ _ _ora. sou epitelial. mas com lucíola eu precisava da desculpa do toque. cumprimentos de chegada e despedida. mesa de bar: lê minha mão? 
(...)
lucíola, minha _ _ _ _ _ _ _ora deusa. só não mais que você. pois abandonei-a em último dia para ir ao encontro teu, para atender ao chamado teu. o chamado de nossos corpos... que há 24 horas ansiavam pelo encontro: chega mais cedo, a gente toma um vinho, dá uns beijos. o teatro com piano, minha blusa com renda, minha felicidade e rubor pelo teu olhar admirado, a sutil e momentânea inversão de papéis, adorador e adorado. luz no altar. teu eu apoio ao meu, ao lado. euseiquevout. o chamado de nossos corpos que não queriam despedir-se após o bar. tom jobim compôs aqui a garota de ipanema. previsões.
(...)
nos despedimos sem conseguir dizer o que olhos buscavam em bocas mudas.
(...)
eu precisava do seu tão logo escrever, para assegurar-me não delirar sozinha. se tivesses me chamado eu iria. eu sempre iria. eu sempre fui. como fui ao seguinte dia. os corpos não se contentavam com o fón. eram curiosos, corajosos, desbravadores. não estou com clima para festa, metaforizei. você entendeu e ofereceu-me um prato de comida quente. chantageou-me com poema meu. trancei-lhe enfim os cabelos. bonita. levei um filme. não vimos. eu quis deixar ligado na canção-tema. você prefere a realidade dos sons naturais dos corpos, de dentro e de fora.
(...)
a foto que não tirei. o celular que piscava fraca bateria. ainda tenho a imagem em mente, feito sonho antigo. se me concentro, vem: o sofá, a luz do sol descendo rápido escurecendo a mata pela janela, seus pés, a perna dobrada, joelhos para cima, colado à barriga (tão linda, a mais linda que houvera, a pinta prima da minha), aos peitos (tão lindos, os mais lindos que houvera, a surpresa minha), seu corpo sentado ao meu lado, o retrato que meu olhar fazia. as mãos ao pequeno instrumento, a minha música preferida, sua tradução a cada verso, que eu já procurara e sabia, mas não consegui ou quis dizer, você dedicada e leve, o vestido, os dedos, os raios suaves, a voz, o picolé na pracinha, a tua fã de cabelo colorido, uva e limão, nossos preferidos, vocês são artistas?, o vendedor disse uma vez, no aterro, num domingo, aos três.
(...)
lucíola, minha _ _ _ _ _ _ _ora deusa. só não mais que você. pois que faltei-lhe o último dia para ir ao encontro teu. naquela quarta-feira em que juntas entardecemos. posso ficar aqui dentro pra sempre?, perguntei. você riu.

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