quarta-feira, 16 de março de 2011

Porque é no vaso que vão embora as coisas mais sanitárias.

         Porque é no vaso que vão embora as coisas mais sanitárias. A privada da vida dentro de nossas casas.Tudo de mais podre e sujo e velho de nós, excessivos borrões. O que não presta, não tem importância, não mais alimenta se é que já alimentou. Balde de excrementos. Funil de bosta, merda que boia. Colocar o peso do mundo, que não flutua nem afunda. Peso que machuca sangrando mensalmente com a cabeça e peitos inchados. Que não tem filho, esse mês não, quem sabe o próximo, se fosse possível. Mas não é. Despejar tudo, as lembranças malditas e mal vividas, exterminar, ralar, e-va-cu-ar. Latrina amiga, psicóloga gratuita. Não haveria pior lugar para te esquecer. Vaso de doenças, vômitos noite adentro, boca, narina, olhos. Cada papel, cada bilhetinho miserável, juntar tudo numa maçaroca completa. Papel de bala, etiqueta do vestido. Sabonete roubado de motel. Aquele líquido para amaciar a carne para o abate sexual. Líquido para deixar a pele úmida. Líquido, preciso de mais líquido, umidificar com xixi, suor, lágrima e gozo. É só forçar que sai. Juntar o biscoito aberto, o bombom velho guardado na geladeira, a flor seca e bronzeada no vaso da janela. Bater, bater com força, bater pra espirrar, explodido pelo teto da cozinha. Com água, água não, vinho, ainda tem um pouco de vinho aberto. Tornar mais aprazível de beber. Num gole só. Não dizem beber para esquecer? Vitamina do desamor. Quem curte? Eu venderia. Diversas garrafas abarrotando prateleiras. Ninguém compraria. Basta promoção, irresistível. Leve três vitaminas asquerosas e ganhe uma bela dor de estômago. Sucesso de venda! Que bem faz um mal! As pessoas gostam de sofrer, para sentirem-se queridas e amadas quando estão é sendo aturadas. Quanto doente de cama com um infeliz ajoelhado ao seu lado e pensando no futebol. Doente porque quer, porque se droga e se fere no corpo e na cabeça. Quanto choramingão pedindo colo, segurando gazes fedorentos para não assustar. Explodindo em gazes, olhos saltando em cinza, corra, é preciso defecar. Mas a vitamina. Um gole não, dois, três. O resto vai pro vaso. Se juntar com o que logo virá. Quero vomitá-la e defecá-la o quanto eu conseguir. Te quero saindo com suas lembranças por todos meus poros, ouvidos e cu. Até a privada dizer chega. E eu caída, sem forças, inerte, mas sem você. Leve sem o peso de bosta que você e o mundo atiraram contra mim. Meu peso leve, minha carga pesada. Meus braços finos, insuportável é o peso do mundo.

10 comentários:

babisecco disse...

pra quem não gosta de falar "cu", "gozo", "merda".. você foi ótima!

Aline Miranda disse...

hahaha pois é.
todo mundo tem um sujo, um raivoso dentro de si.

Anônimo disse...

muito bom.

Joana Rabelo disse...

Gente.... Influência do Sperling? rsr
Aforei.

Aline Miranda disse...

acho bem capaz, joana ;]

Rafael Sperling disse...

Muito bom, ri muito aqui!
Bjs

Joana Rabelo disse...

revisando: Adoro!

floratomo disse...

descarga no gozo!!

Carol Bonando disse...

ahahaha sabe que postei sobre privadas e pingos? Aparece no meu blog, leia o texto, acho que estamos numa linha de pensamentos muito parecida. Engraçado, achei seu blog do nada e agora já me reconheço também em suas linhas.

Ana Oliveira disse...

Adoro ler você...parece que estou cantando... eu danço um promanade e canto e gozo.

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