domingo, 3 de novembro de 2013

ponto supra externo II

um sorriso tão doce
sabia
ao telefone a confirmação em ndhaoemdhcs* voz
fazia tanto calor
ela chegou feito uma aparição
oásis
não se fazia discreta
a casa tem o pé direito alto
ela cabia
cabia tão bem naquela casa onde nunca mais voltara
mas até entonces nada disso se sabia
nada de nada
de nadica.

fazia tanto calor naquele verão carioca
era verão?
acho que não.
primavera.
um ano
por favor silêncio que já vamos começar
eu sei abrir garrafa de vinho sem sacarrolha
mas fazia tanto calor
toda atenção era pouca já que o filme não podia voltar
você anotou a mesma frase que eu
essa que ele disse de arrancar o coração?
virou canção?

entardecia e ela sentou-se à varanda
à vontade
ao violão desafinado
mirávamos todos assim babando
assim sorrindo
eu achava a cena linda
a mudança de cores
merecia fotografar
assim, para registrar
assim, para quando eu esquecesse
mas eu estava paralizada
eu achava a cena linda
e só pensava que eu queria que não tivesse fim
que se repetisse mais vezes
sempre

como pode três por cento de pele causar tanto frisson?
a perna doía da madeira
da posição
mas era proibida de desfazer-se do apoio ao pescoço dela
as mãos proibidas de afagar
fecha os olhos e imagina
um carinho
o tal trançar
como pode, três por cento?
mas é que se tratava de uma pele de espécie muito especial.
animal de raça nobre
de porte
selvagem
mais rara beleza.

que difícil é sair de um filme depois que ele acaba.


* pois que ainda não descobri a palavra que defina a voz que dela sai, já lhe disse veludo, já tentei tantas vezes imitar, é muito única, muito sua, muito dentro, muito envolvente, muito mergulho dentro do mar de arraial do cabo, mas quente. é isso. voz-de-mergulho-em-arraial-do-cabo-quente
(ficou antônimo de cabo frio)

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