terça-feira, 27 de novembro de 2012

da hipnose de atena

Eu prometo que não dormiria
por mais que meus olhos pesassem
não os fecharia.
eu ali, inerte, dura
resistindo aos apelos de Morfeu
deitada de frente a ti
a contemplar tua insônia
fazendo-lhe mil cafunés
você pedindo imobilidade
eu respirando o cheiro forte da química
do teu cabelo em minhas mãos
excita
seus olhos se fecham
mas tornam a abrir
num sorriso suave
que em silêncio diz
viu, não consigo dormir
pisco um dos olhos
eu assassina
você minha vítima.
mas sou eu a prisioneira do seu não-dormir.
quero a intimidade
da liberdade do teu corpo em sono.
ao prometer-lhe a novidade e o prazer
de ser a primeira a dormir
escravizei-me ao sonho teu.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Anna

percebi-te menina,
estrela sozinha no céu
escuro da noite.
quis fazer de mim o seu lar.
tão clichê.
veio o horário de verão,
outros goles,
percebi-te mulher.
novo perfume de cravo
no jardim do meu verão.

daquele agosto oco

Eu devia ter batido-lhe na cara.
Mas eu estava tão fragilizada.
Meus ossos estavam já pendidos e com o sopro de tuas palavras você os quebrou.
Caí.
Não passei do solo esverdeado de ardósia porque não sou britadeira.
Meus pés pequenos não suportavam o peso do teu jeito feito piso, frio.
O seu não-abraço, não-consolo, seu não-não-deixar-me-cair.
Seu eu perto/longe, olhos tão vazios.
Eu sozinha, caída e você...
Você foi dormir o sonho dos anjos apaixonados.
Sem vontade, respeito ou compaixão de velar meu corpo morrendo no chão.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

estrelar

Você quer ser lembrada
Quer ser reconhecida
Pra sempre
Inesquecível
Não cabe em nomes
Em cores
Imagens
Nada nunca basta
Teu tempo é outro
Talvez não saiba
Mas você já é
Você já marca
Você já fica
Como aquelas todas
Você ecoa
Você azeda
Você disfarça
Mas já deve saber
Desde criança
O cisne negro
A fera ferida
A cara tão boa
A louca varrida
Tantas Diniz, Lees, Limas e Maçãs
Nada se vai
Não há coincidências
Ou toca
Ou não toca
Tapete vermelho
Insônia e preguiça
Você não passará
Você passarinho
Você terra grande
Você também fogo, água, ar
E ninho.
Três da madrugada
Você estrondo e ruído
Como se um anjo viesse ao chão.
Tão sorriso
Tão olhos
Tão anna bella
Tão pele viva.
Um dia ainda vão fazer um filme sobre você.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

do frisson

mas o olhar...
ah, do olhar ninguém escapa.
é deixar-se ver para tudo voltar.
suspiros, calor no peito,
esquecimento da dor.

ah, pobre donzela,
de mim fugiste
foi tão fácil para você.
mas não contavas com o encontro dos olhos.
olhar-se nos olhos é como despir-se em bocas nuas.

e toda essa nudez será castigada
com a nudez da pele, do toque
por toda uma tarde,
noite adentro,
bem junto,
tão dentro.

ah, donzela,
por que subestimastes o poder de uma mirada?
(mirando e buscando,
teus olhos,
miranda,
da sacada).

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

dos satélites, dos terráqueos e da lua que sorri

sede nos olhos
sono na boca

elvis, madonna
vicky e cristina
em barcelona.

arde o gengibre
fere o tabaco

mordem-se línguas
na meia-luz
do quarto.


quinta-feira, 15 de novembro de 2012

ósculos oníricos

a chuva sobre a cidade
pingava
sonhos
pingava passos

formando peixes em calçadas
cavalos

embaçando óculos

na noite sem carros
sem degraus
o horizonte

roedores, dragões
feras noturnas
deuses soltos

entre línguas
entre pontos
entre dobras
e cantos

despertando os sonhos esquecidos
a cada manhã.



quinta-feira, 8 de novembro de 2012

da aula

A mão corria automaticamente no caderno.
E somente quando faltava apenas uma letra para completar seu sobrenome notei que não havia escrito o nome da professora, ou a data, ou disciplina.
Sem perceber, escrevera você.
Risquei.
Um mantra?
Sentira você na pele a maciez da escrita minha?
Não olhe, ou coro.
De pavor dos olhos seus.
Graúna de trança e fios soltos.
Tudo nela era noite.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

rascunhando madrugadamente

Conhecer gentes queridas me ajuda a lidar com momentos cinzas da vida. Escrevi sobre isso mês passado, que tenho sido gentil e percebido uma energia boa ao redor. Simpatia é quase amor. Na Prainha conversei com a moça do milho, falou coisas ótimas. Conversei com Luiza (nome lindo) de 7 anos e janela nos dentes, e ficamos felizes que fazíamos aniversário no mesmo mês. Mas ela, libriana, tem sorte, nasceu na primavera 26. "Vinte dias depois de você então!". Pequenos encontros, grandes almas. E assim a vida segue mais leve e o sorriso, mais fácil.

(...)

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