segunda-feira, 29 de outubro de 2012

da "Música ao longe"



E um vizinho adentra minha janela enquanto seus dedos brincam no piano, em alguma sala, em alguma casa, imagino sótão, imagino só, imagino solidão melancólica que invade a tarde de poesia e dor. Imagino-me seguindo seus passos, buscando o som pelas ruas, o vento leva as folhas e confunde meus ouvidos cansados. Encontro a casa, portão entreaberto, empurro, ferrugem nos dedos, subo. A escada por fora da casa antiga. Árvores, a rua que sobe, sobe... A música pausa, ele me olha, sorri, a música retoma e a tarde não é então mais gris.
Escuto o piano, o vizinho está vivo. Ele é. Eu para ele não sou, não existo. Sigo no meu quarto, anônimo. Ele segue com seu pranto em melodia. Compartilhamos a beleza desta tarde mas não sei se ele se sabe acompanhado. Por mim.

Nenhum comentário:

Arquivo do blog